A casa na Almirante Barroso, abrigo do médico, humanista, culto, simples. Cheguei por lá, em verde juventude, o abraço largo. Nas prazer...

O mestre que não tive

oscar de castro
A casa na Almirante Barroso, abrigo do médico, humanista, culto, simples.

Cheguei por lá, em verde juventude, o abraço largo. Nas prazerosas cadeiras de balanço, começamos a conversa. Havia nele uma dimensão de transcendência e de acolhimento naturais encarnados em seu ser de agradável cosmopolitismo que se espraiava pelos problemas gerais. A noite esplêndida, enxuta: no céu o fruto branco da lua madura.

Cedo, ao visitá-lo, experimentei a alegria de conviver de perto com o homem que ensinava Medicina Legal na tradicional Faculdade de Direito. Fora, também, Secretário de Saúde do Município de João Pessoa,
Acervo Familiar
se o espírito não me engana (como dizia Sinhá Vina, nossa lavadeira) no mandato do prefeito, também médico, Luiz Gonzaga de Miranda Freire.

Cuidadoso em todas as searas por onde passava, primava por um trabalho correto, quase infalível e escorreito. Uma convivência única e inesquecível aquela de que trato, agora, nem sei quanto tempo após. Tinha ele uma admiração pelas plantas, as flores explodindo nos canteiros, o arrulho do passarinho a cortar os ares, o cheiro da grama bem cuidada. Uma visão ecológica, cultor que era da vocação de manter vidas na profissão que abraçara.

O relógio deu o sinal: quase meia-noite. Fiz menção de levantar-me. Impediu-me: “Ainda é cedo, menino! Vamos conversar que faz bem e enriquece! ”. E o papo foi tomando fôlego, alheio ao tempo. Disse-me o inesquecível professor que, certa feita, viu os raios da aurora apontarem, em colóquio informal com um amigo português.

Ao despedir-me, pedi um copo com água. “Não quer um leite morno? ” Brinquei: “Passa a sede, professor? ” Ele abriu a risada extravagante, coçou o queixo, respondeu: “É o alimento mais completo do planeta terra”. Trouxe-me uma água fresca, límpida num copo de cristal. Foi a única vez que visitei Dr. Oscar de Castro.

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