Não dá pra esquecer a bela crônica “Não dá pra Esquecer”, de Martinho Moreira Franco (1947—2021) a respeito de slogans famosos, começando pelo clássico “O primeiro a gente nunca esquece”, da Valisere, com a bela mocinha deslumbrada com seu inaugural sutiã, depois do que Martinho envereda por outros trinta grandes achados, dos quais pinço, ainda, indeléveis, o dos lápis Faber Castell - “Se você não comprar, eles vão ficar desapontados”, o das pilhas Duracell - “Têm um lado negativo, mas também um positivo”,
e o do dicionário Aurélio: “Não encontro palavras para descrevê-lo”.
Trabalhei um bom tempo em agências publicitárias – Atual, Real, GCA – pra completar o orçamento e por gostar da coisa. Tive até um clipe - para o lançamento dos edifícios Firenze e Venezia - premiado num encontro nordestino de propaganda. Fiz – de colete, relógio de bolso e charuto – o papel de Freud, num outro. Causei algum alvoroço com um terceiro – do Sindicato dos Bancários. Lia tudo que havia, na época, sobre o assunto. Deslumbrei-me, por exemplo, no dia em que – num volume sobre outdoors (que, por sinal, em inglês se chamam billboards) — dei com o do McDonald´s que era simplesmente o grande retângulo vermelho, dominado pelo curvilíneo M dourado seguido de vários iguais, decrescentes, fazendo “Mmmmmm”! E o que dizer de uma peça promocional da publicidade eficiente, em que as palavras O QUE NÃO É MEMORÁVEL entram no ouvido de um homem, o resto — NÃO VENDE — sai, do outro?
Como Martinho frisa, NÃO DÁ PRA ESQUECER uma e outra peça publicitária, por mais remota que seja. Exemplo: no interior dos bondes de Sorocaba - anos 50 - havia sempre uma tira com uma mesma boca dizendo as sílabas LU-GO-LI-NA, algo como Ivete Sangalo – séculos depois -contando nos cinco dedos as sílabas de PI-RA-CAN-JU-BA. Com os aparelhos de rádio sempre ligados lá em casa , permanecem, nítidas, em minha lembrança, as musiquinhas do “Melhoral / Melhoral / é melhor e não faz mal”, “Coca-Cola, Coca-Cola / oi, / me faz um bem”, assim como um cartaz que vi em cima da entrada do metrô, em Buenos Aires, anos 70: “Cucarachas? Baygon mata!”
Ao assistir ao “2001”, em 68, no Recife, dei com o computador HAL 9000 cantando, para mostrar que a memória estava intacta, apesar do esforço do astronauta David (como o da Bíblia) de “matá-lo”, a canção “Daisy Bell” – eu me emocionando ao ver que era a longa valsinha do velho jingle do xarope Phymatosan de minha infância!
Não dá pra esquecer que, aos 15 anos, quando fui ao Rio pela primeira vez, vi, do ônibus, depois de algum tempo de viagem na Presidente Dutra, num outdoor:
Se você tivesse vindo pela VASP,
estaria chegando ao Rio agora.
“Bem bolado”, pensei.Essa admiração cresceu quando, depois de mais uma hora de viagem, outro outdoor:
Se você tivesse vindo pela VASP,
já estaria no Rio há uma hora.
E isso prosseguiu até que vi o Rio finalmente chegando e o último outdoor da série:
Se você tivesse vindo pela VASP,
já estaria aqui há cinco horas.
“Genial! — avaliei. — Valeu ter vindo de ônibus só pelo prazer de ver isso!” Arrepiei-me ante um VT de 30 segundos do SOS Desmatamento, 1990, em que se via o close enfezado de um belo indiozinho de cabelos longos, ouvia-se o som de uma serra elétrica sendo acionada e víamos as mãos de um homem branco entrando em cena com eficiente máquina de cortar cabelos, que devastava a cabeleira do garoto.
E como alguém não se deslumbrar com o & transformado em feto dentro do O de mOther, no nome da revista Mother & Child, um design de 1965 que se tornou clássico?
Grande Martinho Moreira Franco! Por essas e outras permanece intacto, também, na minha memória.