X Aprofundo mundo Há profundo imundo Mudo em mim Tumulto e solidão Gente e indigente Só lido com o sólido E me desmancho no ar.
XI
Ser-se a fundo Serve ao prol do fundo Fundando um rumo De um mundo sem prumo Arrumo a ordem De profundo ser.
Ser-se a fundo Serve ao prol do fundo Fundando um rumo De um mundo sem prumo Arrumo a ordem De profundo ser.
XII
A minha coragem maior de viver Está na proporção em que eu Exponho o que há de mais Oculto em mim E assumo teus olhos nos meus.
A minha coragem maior de viver Está na proporção em que eu Exponho o que há de mais Oculto em mim E assumo teus olhos nos meus.
XIII
O ventre que me cedia Hoje me incendeia Se todo homem fosse Se revelar cinza de seu parto Não haveria feto nem antes Nem depois de ser Corda de pião.
O ventre que me cedia Hoje me incendeia Se todo homem fosse Se revelar cinza de seu parto Não haveria feto nem antes Nem depois de ser Corda de pião.
XIV
Queria ser tão fino E se perdeu na finitude.
Queria ser tão fino E se perdeu na finitude.
XV
A solidão ganhou seu dia De vida inteira diante da morte Os brilhos só têm assombro Os horizontes estão verticalizados Perdi no ganho, ganhei na perda Os contrários me deram o direito. Masturbei meu corpo inteiro Em busca de um céu Que já estava no chão Cansei, casei e cá sei É a seca rompendo as solas Dissecando as solas dos caminhos Nos quais nem andei Retiro os pés Ponho a voz a percorrer Um hedonismo sedentário.
A solidão ganhou seu dia De vida inteira diante da morte Os brilhos só têm assombro Os horizontes estão verticalizados Perdi no ganho, ganhei na perda Os contrários me deram o direito. Masturbei meu corpo inteiro Em busca de um céu Que já estava no chão Cansei, casei e cá sei É a seca rompendo as solas Dissecando as solas dos caminhos Nos quais nem andei Retiro os pés Ponho a voz a percorrer Um hedonismo sedentário.
XVI
As raízes Ainda fincadas No solo Ficaram podres As estações estacionaram Não deram frutos ao tempo.
As raízes Ainda fincadas No solo Ficaram podres As estações estacionaram Não deram frutos ao tempo.
XVII
Bebo todo receio Do teu seio Anseio entrar No ventre. Entre mim e ti Menti para parar De ser parido.
Bebo todo receio Do teu seio Anseio entrar No ventre. Entre mim e ti Menti para parar De ser parido.
XVIII
Veio às veias Um sangue avesso Retrocedendo um futuro Que não podia ser Meu coração redundante Perdoa mas não esquece.
Veio às veias Um sangue avesso Retrocedendo um futuro Que não podia ser Meu coração redundante Perdoa mas não esquece.
XIX
A gente se adota E se sente dotado De força. Depois a gente se abandona E deixa de ser dono. Ninguém curará minhas orfandades. Porque os seios secos Me enchem de mágoa Não me afagaram Minha vingança: Não me afoguei.
A gente se adota E se sente dotado De força. Depois a gente se abandona E deixa de ser dono. Ninguém curará minhas orfandades. Porque os seios secos Me enchem de mágoa Não me afagaram Minha vingança: Não me afoguei.
XX
Luto contra o luto Fico enlutado Entre uma luta E outra Carrego o meu caixão Todos os dias Todos os dias Carregam meu caixão Meu caixão carrega Todos os dias. Meu nocaute Não será o fim O fim será o nocaute.
Luto contra o luto Fico enlutado Entre uma luta E outra Carrego o meu caixão Todos os dias Todos os dias Carregam meu caixão Meu caixão carrega Todos os dias. Meu nocaute Não será o fim O fim será o nocaute.
NOTA DO AUTOR
"Revisitei o intocável. Relembrei o que achei ter esquecido. Reabri cicatrizes. Ninguém diga que sou piegas porque me apeguei demais, porque quis resgatar o romantismo que estava sendo consumido pelo pragmatismo. Não há como retroceder. Precisei dos lutos diários para chegar às lutas diárias. Sou fruto da minha inconsciência e reflexo das minhas reações imediatas. O tempo não foi perdido porque aqui o tempo não existe na cronologia das horas. Ressurreição e Morte são seres em simbiose. Aqui eu não digo adeus; aqui assumo a vida e o seu avesso sem que seja contrário. Menino, poeta e velho deram-se as mãos para selar uma só filosofia: a de que morte e vida são deveres inevitáveis e diários. E mais: temos direito de nos restituir – temos a saudade. Confesso estar (re)vivendo". (Do livro Lutos Diários)
"Revisitei o intocável. Relembrei o que achei ter esquecido. Reabri cicatrizes. Ninguém diga que sou piegas porque me apeguei demais, porque quis resgatar o romantismo que estava sendo consumido pelo pragmatismo. Não há como retroceder. Precisei dos lutos diários para chegar às lutas diárias. Sou fruto da minha inconsciência e reflexo das minhas reações imediatas. O tempo não foi perdido porque aqui o tempo não existe na cronologia das horas. Ressurreição e Morte são seres em simbiose. Aqui eu não digo adeus; aqui assumo a vida e o seu avesso sem que seja contrário. Menino, poeta e velho deram-se as mãos para selar uma só filosofia: a de que morte e vida são deveres inevitáveis e diários. E mais: temos direito de nos restituir – temos a saudade. Confesso estar (re)vivendo". (Do livro Lutos Diários)