Quando pensamos ter esgotado todo o acervo de orações, vemos que a sintonia com os elevados estados de espírito é infinita. Em cada dia, a conexão com o Cosmo pode ser diferente. Mesmo respeitando preces historicamente tradicionais, como a de Cáritas, São Francisco, Pai Nosso, Credo, Ave-Maria e outras, o conceito de oração não se reflete exatamente em repeti-las. Ainda que, como atestam estudiosos do magnetismo e das energias vitais, o “Pai Nosso” tenha o poder de um mantra.
Prece é recolhimento, não depende de religião. É sintonia com o bem, com as bênçãos da Natureza, que se processa de maneira pessoal tão diversa como diversos somos. Muitas vezes, basta um olhar poético que se deita numa flor, numa paisagem à janela, no lento desfile de nuvens pelo céu, no voo das borboletas e até mesmo no tilintar dos grilos, na escuridão da noite, pode-se transcender à conexão com o divino, objetivo de qualquer crença mística, holística ou religiosa.
Łukasz Łada
Para orar, nenhum artifício se faz necessário, às vezes nem mesmo a palavra. Há de acontecer da forma mais pura, límpida e natural. A leveza, o desprendimento e o esvaziamento mental são de suma importância para criar o ambiente vibratório propício à ascensão da alma e à afinidade com os planos vibracionais superiores.
Nessa ambiência, interna e externa, a gratidão deve ser o ponto de partida. Gratidão pela oportunidade do momento, nem sempre possível.
Storiès
Após a gratidão, alarguemos a compreensão aos limites do que aprendemos de nossa história, desde que o planeta era uma bola de fogo, passou por eras de gelo, e, do lodo e plâncton, veio a vida, em infinitas espécies. Das águas surgiram, infiltraram-se na terra e pelo céu se espalharam. E de tantas formas a Terra se revestiu, cobrindo-se de verde nas matas, dourando crepúsculos e auroras, prateando luas por cima dos mares e multiplicando-nos em povos, países e cidades. E nesse grande turbilhão urbano e humano fomos inseridos, século após século, milênio após milênio.
Essa cosmovisão imaginada no início das orações, traz-nos um reconforto inestimável e produz um estado interior sereno que, sem dúvida, acalma o coração. Após sintonizar com este “mundo”, acima do dia, é hora de se conectar com as boas intenções.
Burt
Exatamente esse é o significado de “orar e vigiar”, bem advertido na Boa Nova, nosso maior código de conduta, seja para ateus, céticos ou aos que nutrem algum sentimento de religiosidade, bem distinto de religião.
Mas se seus efeitos não se fizerem permanentes em todos os nossos atos e pensamentos, jamais a prece terá a bênção do “relegere”, aludida pelo Cícero de Arpino: “Todos aqueles que, pertencendo ao culto divino, diligentemente o repetem, como se o relessem, são ditos religiosos porque releem”.
É justamente nesta “releitura” da vida como fenômeno em que nos inserimos, individual ou coletivamente, ao longo das eras milenares, que a oração acontece como um bem enorme. Um bálsamo que durará até a noite, ao deitarmos a consciência na paz cultivada, ou à manhã seguinte quando a luz do dia nos convidar a uma nova prece.