Estou feliz, disse ao amigo. Ele me olhou de forma estranha com o canto do olho, talvez procurando uma justificativa para o meu estado. O...

Como surgem as dúvidas

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Estou feliz, disse ao amigo. Ele me olhou de forma estranha com o canto do olho, talvez procurando uma justificativa para o meu estado.

Olhou em volta e praticamente pesquisou a fisionomia dos que passavam, na busca de uma justificativa para minha estranha condição anímica. Quase todos, embora talvez ampliando um certo grau de “otimismo” uns 70%, exibiam ostensivamente um rosto de desaprovação com a vida, no mundo e no Brasil.

Havia portanto uma demonstração significativa de frustrados e insatisfeitos com as ocorrências diárias e sucessivas. Em alguns, de franca revolta, em outros de ceticismo e para um terceiro grupo
Edward Hopper
buscando elencar o que era mais relevante neles, uma profunda tristeza com padrões tão marcantes de desumanidade ou com níveis tão elevados de indiferença com o sofrimento humano em geral. Estes exalavam uma pseudofelicidade, ódio difuso, ou tons de egoísmo que para ele eram inaceitáveis sob qualquer ponto de vista.

Dei um abraço, me despedi, desejei um mundo melhor para todos nós e com as mãos nos bolsos, como se procurasse algo, fui pensando em mim mesmo e já questionando um certo grau de desatenção com o todo e com os detalhes do mundo em que vivia.

A propósito, esta música vai muito longe nas certezas da dúvida:
Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração Se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar, vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar


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