Apego-me facilmente aos lugares. Não tão facilmente assim. Levantei a vista, numa tarde dessas, e me defrontei com o cadáver da linotipo que o Correio da Paraíba, no auge da concorrência, colocara na sacada do jornal. E num instante se embaralham cenas, expressões humanas, a última, de Antônio Vicente, que deixou sua vaga entre nós em fevereiro. Fazia anos que eu não o via.
Como Evandro Nóbrega, que foi a vida inteira de O Norte, Antônio Vicente acomodou a sua vida no jornal de Teotônio, de Madruga, de Bosco. Era de Piancó, como o fundador, mas não deve ter entrado nessa fase. O fator piancoense há de ter influído ou acenado para o moço acanhado de olhos esperançosos, certamente de origem humilde, que vira iguais como ele se firmarem no jornalismo.
Como Evandro Nóbrega, que foi a vida inteira de O Norte, Antônio Vicente acomodou a sua vida no jornal de Teotônio, de Madruga, de Bosco. Era de Piancó, como o fundador, mas não deve ter entrado nessa fase. O fator piancoense há de ter influído ou acenado para o moço acanhado de olhos esperançosos, certamente de origem humilde, que vira iguais como ele se firmarem no jornalismo.
João Bosco Gaspar viera de lá, recebi-o em A União, nos fins da década de 1950, tornando-se não só um bom repórter como um dos profissionais que melhor assimilaram as normas técnicas. Editor do Correio, senhor do seu ofício, Bosco fazia da emulação um bom estímulo. Rápido foi me rendendo no métier em que mais me empenhara.
A província cultural do Piancó, com influxos políticos e culturais por toda a região do entorno, retomava o prestígio conquistado por Manuel Otaviano, por Ascendino Leite.
Antônio Vicente se escondia na simplicidade. Era o fato, o acontecimento, que devia se destacar e não ele. Poucas vezes assinava. Mas não era tão simples em seu preparo ou em suas indagações.
Já que está em foco uma nova tradução do Ulisses, de Joyce, tão logo li a notícia, um dia antes da morte de Antônio Vicente, assaltou-me a tarde em que atravessei a redação para entregar a crônica e ele me pergunta por que “tinha de ler” o romance famoso.
Atrapalhei-me, não soube responder, e o aconselhei a ler, se possível, a entrevista de Bernardina Pinheiro, autora de tradução menos truncada que a de Houaiss.
Na verdade, é uma obra que precisa ser explicada, mesmo que Edmund Wilson fale da “nova e desconhecida beleza” proporcionada pelo “poeta de uma nova fase da consciência humana”. Isso foi há dezesseis ou dezessete ano quando se anunciou uma janela nova para os que, como eu, ficaram a ver navio na tentativa de ler coisa mais acessível do que Houaiss.
O que eu disse a Toinho (era como o tratava) ele já tinha feito. Era um repórter que se preparava o melhor possível para perquirir o assunto de suas entrevistas. E fora anunciado, por alguém da editora Objetiva, a passagem da tradutora, professora emérita de Letras da UFRJ, por nossa João Pessoa, o que terminou não acontecendo.
Vicente, como disse antes, se escondia na simplicidade; era um letrado vestido como um simples. Mas não conseguia dissimular a pretensão dos seus olhos, de um olhar de permanente cobrança às vezes enraivecida.