Para Silvana Romani, que perdeu Sinhá
O atento leitor e a cautelosa leitora já devem estar se perguntando: Quem será esse déspota que está sendo chamado de adorável? Existiria alguém, algum ditador, que poderia ser agraciado com tão mimoso adjetivo?
Poderia, não! Pode! Vou contar quem é. O nome dele é Fred. Fred do quê? De onde? Irão me perguntar. Vou ter que contar. Fred é para mim apenas Fred, um cão que compartilha o mesmo endereço que eu. Assim, já está respondido, o “do quê” e o “de onde”. Vamos então, às demais considerações.
Tem dois anos de idade, o que no calendário canino equivaleria a uns quinze comparados com nós humanos, nem muito menos, nem muito mais. Enfim, um adolescente com todo vigor e efervescência hormonal próprios da idade. É um “labrador retriever”.
L.A.P. da Mata
Dito isto, vamos nestas mal traçadas linhas, tecer algumas ponderações acerca do caráter desta soberana figura que me motivou escrever o presente texto.
Pressupostamente deveria ser o cão de minha filha, a caçula, mas esta, meses atrás bateu asas e foi ganhar o mundo deixando o ninho vazio e meu coração em frangalhos... e o Fred. No entanto, desde que chegou (obviamente refiro-me ao cão e não à filha) essa criatura me adotou. Deveria então, ser eu o mandão, o alfa, mas não é o que vem ocorrendo. Não me desgruda, está sempre ao meu lado, mas ele se acha. Sou o subalterno e ele o chefe.
L.A.P. da Mata
Minhas caminhadas com ele são diárias. Percorro 2,5 km em meia hora. Ele acha que aquilo não é um passeio, mas a hora de fazer suas necessidades. Durante o trajeto, pelo menos três vezes tenho que exercer minha cidadania e recolher o produto mal cheiroso que ele deixa pelo caminho. Lá fico eu levando saquinhos de supermercado e os abasteço de um produto que delicadamente podemos chamar de cocô. Eu, na idade que cheguei, me submetendo a essas tarefas pouco dignificantes...
Um veterinário, amigo meu, recomendou-me a castração (não minha, mas de Fred). Segundo esse médico de bicho, o meu amigão iria perder essa mania de marcar território, seria menos intolerante com outros cães, deixaria em paz as visitas, não morderia a mão do funcionário da Energisa e deixaria em paz meus sofás e as roupas no varal. O que vocês acham? Não concordo.
L.A.P. da Mata
Fique tranquilo, Fred. Jamais farei isso com você. Fora essas suas idiossincrasias, você é meu parceiro. Quando escrevo, como agora, você está aos meus pés e me olha com toda ternura do mundo. Quero sempre ver você vindo me despertar pelas manhãs inaugurando os meus dias com sua alegria contagiante. Irei, como sempre, perdoar sua tirania e direi para quem interessar possa: Você é o pior cão que já tive e ao mesmo tempo, o melhor de todos.