Os sinos mudos e a rabeca de Elísio soltando notas gaguejadas. A igreja pequena onde fora batizado e recebera outros sacramentos, incluind...

A rabeca de Elísio

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Os sinos mudos e a rabeca de Elísio soltando notas gaguejadas. A igreja pequena onde fora batizado e recebera outros sacramentos, incluindo o matrimônio celebrado quando o noivo havia dobrado o cabo das tormentas com a noiva paciente. O templo antigo, em ruínas, o mato subindo pelas paredes rasgadas por estragos do tempo. O casal estava cansado, morando na mesma casa, herança do pai de Zizinha, sem atropelos de inventário mastigado, pois ela, a herdeira era filha única.

Passarinho
Elísio trabalhara no banco local como caixa. Jamais gostara de passar cédulas, pegar no dinheiro alheio, fora a tentação que sempre vinha acintosa lhe cheirar a alma pura lavada a água de colônia. A honestidade acima de tudo – lhe ensinara o pai, desde quando cavavam o chão para plantar milho, feijão e tomate.

O concurso para o banco lhe arrancou a enxada. Noites de estudo, rapazote inteligente, o velho no incentivo. Foi um arrasta-pé seguro quando veio o resultado publicado no Diário Oficial.

Zizinha era de olhos no rapaz de futuro. Não muito bonito como ela sonhava, ao ver os filmes americanos exibidos na praça: suspirava por um Marlon Brando local. Mas veio se chegando Elísio. Já tocava naquela época e era conhecido como compositor.

Casados, família pequena, uma freira, uma contadora, um vendedor. Lugar diminuto, a única diversão era o cordão vermelho e azul se debatendo nas festas de fim de ano. Ele torcia por uma cor, ela por outra. Era somente no que divergiam. Casal admirado pelos poucos moradores do lugarejo.

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Foi no Natal que se deu o risco: Chico trouxe seu charme, puxou a viola, desafiou Elísio. Este soltou a rabequinha. Ambos foram ovacionados. O visitante era do cordão de Zizinha. Piscou-lhe o olho conquistador. A mulher se resguardou do vexame, entrou em casa e se protegeu. Depois que conheceu o marido, não havia Marlon Brando capaz de lhe tirar o equilíbrio.

Chico guardou a viola e desapareceu.

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