Era uma vez um homem, com longa experiência em prestação de serviços ao seu país, que iria responder a uma CPI por, supostamente, ter cometido atos ilícitos e participado de uma organização criminosa, que, segundo os denunciantes, havia causado danos ao erário público.
Chegando ao local, previamente definido para a CPI, o homem foi levado por duas pessoas a um espaço discreto, onde lhe foram apresentadas as perguntas e respostas previamente definidas para o interrogatório.
O homem, diante da surpresa causada pelas perguntas e respostas apresentadas, iniciou um breve diálogo com seus interlocutores:
- "Mas, isso que está aqui não é a verdade"!
- Meu senhor, a verdade está com quem manda, com quem tem poder! A verdade é a que eles querem que seja.
- "Eu não vou compactuar com mentiras"! Acredito na justiça e sei que a verdade prevalecerá" - disse o homem que nunca foi afeito a mentiras, subterfúgios e a nenhum tipo de despropósito.
- Então o senhor vai preso, alertou um de seus interlocutores.
Bom, assim aconteceu. O homem não mentiu, não concordou com a farsa montada e foi preso, condenado a 12 anos, mesmo diante da ausência de qualquer tipo de prova que justificasse a aplicação dessa pena.
A 'verdade' dos poderosos prevaleceu, assim como ele havia sido alertado.
Após 6 anos cumprindo pena em uma prisão de grande porte e nacionalmente conhecida, saiu por força de um indulto de Natal. A verdade verdadeira então passou a ser vista, a aparecer. O homem, apesar de tudo, começou a falar sobre o que lhe aconteceu.
Nas suas reflexões diárias, que lhe amenizam a dor e dão suporte a toda injustiça e violência que viveu, o homem entendeu que a verdade dos poderosos não tem preocupação ou compromisso com a história, com o tempo, com a vida e, sobretudo, com a verdade.
A verdade verdadeira, no entanto, é persistente e em algum momento ela chega, aparece clara e consistente. Mas os poderosos, portadores da verdade já criada, conseguiram o que queriam, atingiram seus objetivos escusos e vis.
O homem ficou com a verdade verdadeira, enfim! De cabeça erguida, com as forças que lhe sobraram e outras que surgiram no trajeto, o homem recuperou sua honra! Sua consciência tranquila foi lhe trazendo outros e novos caminhos iluminados. Mas o homem não recuperou os seis anos que ficou longe de seus familiares e amigos. Esse tempo não volta…
Não recuperou as possibilidades de sua vida, justa e íntegra! Não recuperou seus bens, e os recursos financeiros usados em sua defesa. Não recuperou o tempo perdido para criar e viver, não recuperou sua saúde plena, não recuperou sua imagem de homem íntegro e devoto ao trabalho, ao certo, ao bem comum. O homem luta diariamente para recuperar sua cidadania e dignidade, mesmo sabendo que sua voz não chegará a todos os cantos e recantos. O homem luta segurando sua verdade verdadeira pelos dentes!
E os portadores da falsa verdade serpenteiam incólumes pelos poderes da vida, satisfeitos, carregando a leveza de suas vidas ocas e rasteiras.