Os níveis de saúde são avaliados hoje pela medicina moderna como um resultado direto e focado primordialmente no estado de nosso sistema imunológico. Se as defesas estão plenas, nenhum abalo à saúde sofrerá. E como a ciência já provou que as condições de imunidade são intrinsecamente ligadas à emoção, ao otimismo e à alegria de viver, não restam dúvidas sobre os benefícios do humor e seus efeitos na longevidade. Decididamente, bom humor é sabedoria.
Nossa avó paterna, que partiu aos bem vividos e saudáveis 109 anos de idade, era mestra em bom humor. Dizem que sábio mesmo é quem é capaz de rir de si próprio, e até da própria desgraça. É comum, por exemplo, nos acharmos mais feios em alguns dias do que em outros. Certa vez, a nossa avó Maria Pia, já passada dos cem, olhou-se no espelho e resmungou: "Ô velha feia danada", e deu uma boa risada... De outra, estava em sua cadeira de balanço, na leitura matinal, e uma mosca impertinente haja a incomodá-la, pousando a toda hora no seu braço. Ela só fez rir dizendo: "será que esta mosca pensa que eu já morri?...
Não é à toa que se diz que quem puxa aos seus não degenera. Foi isso que aconteceu com o caçula de dona Pia, Carlos Romero. Herdou-lhe a sabedoria do bom humor.
Quando estava prestes a lançar seu último livro, por causa de uma crise de coluna, seguida de uma virose, ele foi obrigado a adiar a noite de autógrafos. Antes, já na iminência do adiamento, adverti-o. “E agora, como o Sr. vai lançar o livro com essas dores na lombar?” E ele: “Bobagem, meu filho, entrar lá manquejando um pouco dá até um certo charme”.
Outro fato que bem ilustra sua elevada dose de bom humor foi quando ele teve que se submeter a uma cirurgia de coluna, tipo de intervenção que não deixa de ser preocupante. No quarto do hospital, aguardávamos os enfermeiros que o levariam para o bloco cirúrgico. Ele, já todo paramentado, de túnica, touca e sapatinhos de gaze, assobiava tranquilamente.
Pouco mais, chega o maqueiro: “Vamos? Está tudo bem?” E ele: “Melhor, estraga!” Evidentemente que o rapaz se surpreendeu com a resposta incomum, sobretudo de quem está a caminho de uma sala de cirurgia.
Ao se deitar na maca, continuou assobiando. Então, o maqueiro não se conteve: “Olhe, eu trabalho neste hospital há muitos anos. Já vi pacientes subirem numa maca tensos, chorando, orando, nervosos, com muito medo, mas, assobiando, confesso que é a primeira vez”.
Não sabemos se a propensão a estados d'alma bem humorados é repassada geneticamente, mas, decerto, vovó Piinha transmitiu-a ao "cronista de Tambaú". O seu bom humor foi testado e patenteado em uma certa viagem que fizemos à Suíça, Israel e Inglaterra, quando uma estenose lombar aguda o atacou a ponto de colocá-lo numa cadeira de rodas. Como não havia, segundo os médicos consultados, uma urgência que nos fizesse retornar ao Brasil imediatamente, decidimos prosseguir.
Já em Londres, saímos serelepes a perambular empurrando sua cadeira de rodas em grandes passeios por Piccadilly, St. James Park, Royal Festival Hall, livrarias da Charing Cross, lojas da Oxford Street, e até assistimos ao Quebra-Nozes no London Coliseum! Em certos momentos ele chegava a brincar: "se eu soubesse que cadeira de rodas era tão bom, já tinha alugado uma há tempo"...
O melhor foi quando paramos num cruzamento, esperando o sinal de pedestres abrir, e chega ao nosso lado um rapaz empurrando seu bebê num carrinho. Papai cutucou-me cochichando: "diga-lhe que, no futuro, eles trocarão de lugar, como nós agora". Ensaiei um inglês de viagem, o rapaz entendeu, sorridente, e continuamos nosso passeio, dando boas risadas…
É isso aí, quem quiser viver muito, e com saúde, aprenda a rir, rir de tudo, principalmente da vida, ou de si próprio.