A quebra da Bolsa de 1929 fez a América mergulhar em recessão seguida de depressão, pela qual viu o capital das empresas derreter-se rapidamente; o dólar se volatilizar ao extremo sem que tivesse como, nem a quem recorrer diante da abissal situação em que fora jogado pela roleta especulativa do mercado acionário. Em um dado momento da crise, a título de consultoria, o então presidente Roosevelt resolvera receber o jovem economista inglês John Maynard Keynes, recomendado como um novo talento da academia, criador de uma nova terceira via econômica. Tratava-se essa via de uma linha intermediária que, se por um lado não se curvava integralmente ao marxismo,
por outro não se dobrava em completo ao liberalismo econômico. Um acordo difícil entre dois inimigos sistemáticos e já tradicionais na geopolítica de então, a saber, o capitalismo selvagem filho dileto do colonialismo europeu, versus o comunismo fechado da revolução bolchevique.
Na sala oval da Casa Branca, o presidente americano ouviu do jovem economista inglês os fundamentos de uma curiosa tese que encetava a exata questão econômica que o trouxera ali. O diálogo entre os dois ficou para sempre nos compêndios de história econômica. Mesmo que ligeiramente afetado pelo folclore politico e sua costumeira tendência anedótica, não restam dúvidas de que aquela conversa deu-se mais ou menos no sentido abaixo:
– Para sair dessa recessão, vai ser preciso por as pessoas para trabalhar, Presidente.
— Concordo. Mas como fazê-lo com tantas fábricas e lojas fechadas?
— Na situação em que estão agora, as pessoas não medirão esforço para trabalhar, Presidente. Dê-lhes picaretas e pás e elas cavarão buracos.
— Mas, que proveito tirarão de tanta buraqueira?
— O benefício de tapá-la. De manhã cavarão os buracos, e pela tarde se ocuparão em tapá-los.
— É só isso?
— Por enquanto é só isso, Presidente. Com o dinheiro pago por esse trabalho, elas comprarão comida, fazendo a roda da economia girar novamente. As fábricas moverão suas máquinas e as lojas abrirão suas portas.
— Concordo. Mas como fazê-lo com tantas fábricas e lojas fechadas?
— Na situação em que estão agora, as pessoas não medirão esforço para trabalhar, Presidente. Dê-lhes picaretas e pás e elas cavarão buracos.
— Mas, que proveito tirarão de tanta buraqueira?
— O benefício de tapá-la. De manhã cavarão os buracos, e pela tarde se ocuparão em tapá-los.
— É só isso?
— Por enquanto é só isso, Presidente. Com o dinheiro pago por esse trabalho, elas comprarão comida, fazendo a roda da economia girar novamente. As fábricas moverão suas máquinas e as lojas abrirão suas portas.
A partir dali, e de uma listagem fornecida pelo próprio Keynes, Rossevelt instituiu o NEW DEAL, um novo acordo nacional que rompia com o LIBERALISMO ECONÔMICO do século XIX, e fazia a heterodoxia econômica entrar em cena através de um acordo de intervenção estatal na economia abrangendo agricultura, indústria e área social. Entre as principais medidas estavam:
▪ Concessão de empréstimos aos fazendeiros arruinados para pagarem suas dívidas e reordenarem a produção;
▪ Controle dos preços e da produção agrícola e industrial, assim como fixação dos preços de produtos básicos, como carvão, petróleo, cereais etc;
▪ Abertura de obras públicas, nas quais a criação de novos empregos visava milhões de desempregados;
▪ Aumento da massa salarial, com elevação dos salários, e criação de salário-desemprego para aliviar a situação da miséria dos desempregados, além de diminuição da jornada de trabalho para 8 horas, visando com isto abraçar uma quantidade maior de trabalhadores;
▪ Legalização dos sindicatos;
▪ Erradicação do trabalho infantil;
▪ Criação da previdência social.
Nascia ali, naquele momento, uma forma nem tanto ao mar nem tanto à terra de lidar com a economia. Uma forma macroeconômica que, infelizmente, os próprios Estados Unidos não tardariam a renegar e boicotar tão logo tivessem de lidar com os ricos e pobres do mundo, no novo panorama que se descortinava com o final da segunda guerra mundial (depois da América se tornar a grande e única provedora de máquinas, combustíveis, alimentos, remédios e armas para os países aliados em situação de Guerra Mundial, conseguindo assim, em pouco tempo sair da estagnação econômica para uma elevada situação de riqueza e pleno emprego), convertidos que estavam agora os Estados Unidos na nova potência global em um mundo dividido pela Guerra Fria (essa, um fruto tardio da animosidade que a Grã-Bretanha nutria pela Rússia, apesar das alianças tão recentes que os dois haviam firmado contra a Alemanha nas duas últimas guerras mundiais).
Historiando um pouco: O Acordo de Bretton Woods, de 1944, regulava as relações comerciais entre os EUA e os países considerados ricos (mesmo que, naquele momento alguns deles (FRANÇA, INGLATERRA E ALEMANHA) estivessem completamente quebrados, incluindo Canadá e Austrália, cujas economias e moedas teriam a partir dali seus valores mensurados em relação ao dólar. A ONU, o BANCO MUNDIAL e o FMI, eram as novas instituições reguladoras das relações econômicas entre os países ricos, instituições estas que por sua vez se regulavam, e AINDA, pelas mesmas politicas macroeconômicas que haviam tirado os EUA da estagnação, 16 anos antes, ou seja, o Keynesianismo.
O primeiro grande retrocesso sócio-econômico e politico dos EUA, se daria em 1971, quando o Presidente RICHARD NIXON, depois de respaldado pelo que ficou conhecido como Consenso de Washington, e sob aquiescência total daquelas instituições internacionais citadas acima, mostrou os dentes do Imperialismo norte-americano para o Sul Global, aí inclusos os países da America Latina.
Naquele momento, os EUA, após devolver suas reservas de ouro pertencentes às famílias judias que haviam conseguido escapar de HITLER, como os ROTHSCHILDs, por exemplo, resolvem, numa suprema medida de autossuficiência, trocar a relação DÓLAR–OURO pela relação DÓLAR–ENDIVIDAMENTO INTERNO, mas para tanto, estendendo esse novíssimo padrão global para os países de terceiro mundo, que seriam, a partir dali, obrigados a endividar-se – o pagamento de juros altíssimos, longe dos praticados na Europa e Estados Unidos, cobriria as diferenças nos fluxos de dólares, refinanciando assim os gastos do império norte-americano. Para países do terceiro mundo, como o Brasil, estes empréstimos feitos através do BANCO MUNDIAL, teriam suas destinações de investimentos reguladas pelo FMI – que não acatava projetos desenvolvimentistas e somente sanciona investimentos extremamente restritivos, distantes da HETERODOXIA KEYNESIANA.
O que antes valera para os pobres dos Estados Unidos, não valeria para os países do chamado terceiro mundo. O Keynesianismo devia ser esquecido por dirigentes desses países, que, mergulhados na submissão politica, veriam dia após dia, o alargamento do fosso da desigualdade social, acompanhado este pelo crescimento exponencial de sua dívida externa. E a consequência de tudo isto foi o travamento do seu desenvolvimento tecnológico, do social e até mesmo da extração de seus próprios recursos minerais (a Petrobrás brasileira passou todo o governo militar pós-64 sem aumentar sua produção de petróleo).
Os novos economistas brasileiros com cursos de pós-graduação em Harvard e Oxford, a partir dos anos 70, e ancorados em ditaduras militares, propagavam a ortodoxia econômica que vetava gastos do governo (impedindo expansões do PIB) e concediam ao empresariado (à elite) garantias de prosperidade através de reformas fiscais benevolentes e, como se não bastasse, concedia-lhes uma rota de fuga para seu capital em busca de paraísos fiscais. Em 1989, veio a queda do muro de Berlim, quando outro retrocesso do capitalismo verificou-se com o retorno do NEO-LIBERALISMO à cena (um sistema ideológico tão tóxico que era, nada mais nada menos que o responsável pelo surgimento, no já distante século XIX, da ideologia MARXISTA como antípoda), essa politica fiscal benevolente involuiria então para o nome fantasioso de RIGOR FISCAL, na verdade apenas mais um arroxo fiscal contra as classes mais baixas, visando compensar o afrouxamento fiscal para o empresariado.
Reprisando: a heterodoxia econômica que havia salvo França, Alemanha e Inglaterra não seria permitida no Sul Global. No entanto, ao olharmos hoje na direção da Alemanha, por ex., o país mais rico da Europa, vemos que o Keynesianismo que ali aportou desde os primeiros momentos do pós-guerra, ancorou em definitivo, bastando citar alguns exemplos do que é hoje a participação do ESTADO ALEMÃO na vida dos seus cidadãos de classe media e baixa:
1
A licença maternidade pode chegar a até 3 anos, com a mãe recebendo salário integral e sem risco de perder emprego nesse período;2
A perda de emprego acarreta ao Estado pagamento de aluguel e garantia de necessidades básicas pelo tempo que o trabalhador ficar desempregado;3
Falta de condições para consertar ou mobiliar a casa? O auxilio do governo não tarda para isso;4
Política fiscal onerando os mais ricos e isentando os mais pobres, e mais uma enormidade de benefícios às camadas menos ricas da população.Nem vamos falar na politica econômica de integração popular que, depois das reformas de DENG XIAOPING ainda nos anos ‘80 do século passado, fazem a CHINA de hoje disputar com os EUA o lugar de primeira potência econômica do mundo. O KEYNESIANISMO ali transpira por todos os poros. Das decisões e planos quinquenais adotados pelo governo chinês às politicas de integração que visam o crescimento da população como um todo e não apenas de sua camada de elite.
Vamos encerrar fazendo algumas perguntas que nos levem a pensar: o que fez o BRASIL em poucos anos tirar 40 milhões de almas da pobreza extrema e alavancar seu PIB até o ponto de encostar na ALEMANHA? Se para tanto usou um investimento social que em nada o impediu de pagar a imensa divida externa, e de até emprestar dinheiro para o Fundo Monetário Internacional? Um investimento como o Bolsa-Família que, se comparado aos gastos sociais de Alemanha e China, lembram moedas atiradas numa cuia de mendigo? Onde está a explicação para isto?
Comecemos a responder com esse axioma matemático da economia keynesiana, cujos termos nunca foram até aqui mencionados por nenhum daqueles economistas de Harvard ou Oxford, sequer colocados em salas de aula para o alunado de curso superior, e jamais citados em nenhuma mídia para esclarecimento de nossa população brasileira, sempre cuidadosamente amestrada para interessar-se apenas por banalidades do tipo futebol e novelas de televisão:
O RETORNO de um investimento social é DIRETAMENTE PROPORCIONAL ao grau de DEFASAGEM dessa sociedade.
Explique-se melhor: quanto mais defasado (mais pobre) for o grupo social, menor será o montante requerido de investimento para alavancar as condições materiais do mesmo, e maior e mais rápida se dará a projeção econômica em torno deste.