Segundo o historiador Simon Sebag de Montefiore, no seu livro “Written in History – Letters that Changed the World”, a filha do ditador Joseph Stalin, Svetlana cresceu no Kremlin. Desde a idade dos sete aos 11 anos (começo dos anos 1930), ela escrevia frequentemente ordens que qualquer criança adoraria vê-las executadas. Um dia, ela escreve uma ordem para o “Primeiro Secretário” (Stalin) e para os outros “Secretários” (do Partido Comunista) exigindo que todo dever de casa deveria ser eliminado nas escolas soviéticas. Stalin gostava enormemente dessas brincadeiras e firmava todas essas ordens recebidas, como também as autoridades do Politburo, as assinavam.
Essas correspondências eram todas fixadas em um quadro instalado na cozinha de Stalin. Ele a chamava de “Svetlana, a Chefe” ou “Setanka, a Dona da Casa” e frequentemente respondia por escrito: “Eu obedeço a Setanka, a pequena secretária. Assinado, Stalin”. Abaixo da assinatura de Svetlana, estava escrito: “Primeira Secretária do Partido Comunista” ou “Chefe”. Em um de seus ofícios, ela exige saber o segredo do que está acontecendo no Comitê Central, através do qual, seu pai aterrorizava o povo soviético. Algumas vezes Stalin pedia a Svetlana mais ordens: “Escreva para mim com mais frequência, minha Pequena Secretária. Logo não saberei o que fazer, se não receber suas ordens e exigências diariamente”. Na Ordem Diária No. 3, Svetlana escreveu para Stalin: “Eu lhe ordeno que me mostre o que acontece no Comitê Central! Estritamente confidencial. Stalina, a Chefe”.
É por todos conhecidos, os horrores dessa época, com milhões de pessoas assassinadas por discordarem do regime ou por outro motivo qualquer. Quanto aos números verdadeiros, é impossível estimá-los.
Entre 1931 e 1933, a Ucrânia também muito sofreu com as atrocidades do governo de Stalin. Sua produção agrícola que era muito desenvolvida, foi desviada para alimentar a Rússia. Com isso, se estima que cinco milhões de ucranianos morreram por inanição nesse período. Essa tragédia ficou conhecida como “Holodomor” (termo que significa a mortandade dos ucranianos que pereceram de fome devido à política econômica de Stalin, nesse período).
O domínio dos czares, por cerca de 370 anos na Rússia imperial, teve seu fim com a Revolução Russa de 1917, dando início à era do comunismo que dominou o país até a extinção da Guerra Fria com os Estados Unidos da América do Norte, em 1991. Nesse período, a União das Repúblicas Russas Soviéticas (URSS) teve sete presidentes, iniciando com Vladimir Lenin, o principal líder bolchevique, terminando com Mikhail Gorbachev, o último Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética e responsável pela consagração de um projeto de transparência política e reestruturação econômica do país. Stalin foi seu segundo presidente.
O primeiro presidente da Rússia a partir de 1991 foi Boris Yeltsin, após a derrocada da URSS, eleito democraticamente. Teve a oportunidade de comandar a transição do socialismo para o capitalismo e seu governo foi marcado por mudanças políticas e econômicas na Rússia, atingindo também, outros países pertencentes a ex-União Soviética e ao Leste Europeu.
Yeltsen, o antecessor de Vladimir Putin, foi um beberrão pró-Ocidente. Por seu procedimento absolutamente irresponsável e fanfarrão facilitou a ascensão de Putin ao poder. Deixou o Partido Comunista da antiga URSS em frangalhos, mas esqueceu da KGB, que permaneceu praticamente intacta e bastante ativa. Forjado nos corredores da KGB, Putin surgiu para preencher um vazio de poder a encantou os russos com a sua postura educada, o seu carisma e a sua promessa de unir o País para que a Rússia voltasse a ocupar lugar de destaque entre as nações.
No dia 23 de fevereiro próximo passado, Thomas Friedman, atualmente editorialista do jornal The New York Times e autor do best seller “O Mundo é Plano”, escreveu um artigo no Estadão com o seguinte título “EUA e Otan não são inocentes na Ucrânia”. Segundo sua opinião, Putin falhou completamente em transformar a Rússia, após o final da Guerra Fria, pois, não conseguiu orientar um modelo econômico capaz de realmente atrair seus vizinhos em vez de afastá-los, ou de inspirar seus maiores talentos a permanecerem no país em vez de entrar na fila para obter um visto para o Ocidente. Por essa razão, Polônia, Hungria, República Checa, Eslovênia, Letônia, Estônia e Lituânia, além de todos os países que integravam a antiga União Soviética, libertaram-se da “Cortina de Ferro” em um curto período de tempo entre o final dos anos 1990 e o começo do ano 2000.
As autoridades norte-americanas em vez de incentivarem uma revolução democrática no país e sua órbita, contando com o apoio da população russa, decidiram empurrar a Otan até as fronteiras, após seu enfraquecimento. Aproveitando dessa situação, Putin assumiu essa guerra para ele, disposto a manter seu poder ditatorial a todo custo. Continua forte politicamente, quando completou 20 anos de mandato no final de dezembro de 2021, embora tenha havido um período mandatório indireto, mas comandando o país da mesma maneira.
Com o desmantelamento da URSS e a separação dos países satélites da Rússia, o país ficou muito fragilizado. Entretanto, o arsenal nuclear que foi deixado para trás no país soviético, é enorme, fazendo com que a Rússia seja atualmente a segunda maior potência nuclear do planeta.
Na situação atual, graças ao enorme desenvolvimento tecnológico adquirido até agora pelo homo sapiens, precisamos torcer com bastante fé para que outro ditador e populista da vez, não seja o responsável pelo início de uma terrível guerra nuclear que poderá destruir em pouco tempo nosso Planeta Azul.