Até aos que não ouvem é possível o mar cantar. Com o céu faz um dueto, em busca um do outro. No desenho ondulado infinita é a arte. Quebra ali, surge acolá, explode adiante, sempre a rir bordando a espuma.
Aos que o ouvem, um deleite sinfônico em todos os timbres. Do grave robusto ao mais fino agudo, nuances sonoras, nunca iguais, formam seu canto, ainda que a rotina lhe escreva a pauta, ano após ano, era após era…
Dança com os ventos, mescla-se às chuvas, é quando o espetáculo consagra a beleza. Mesmo bravio e quando ameaça jorrar pela terra, cravado por raios em tempestade uivante e brilhante, traduz-se em beleza o impávido colosso.
De onde brotou tudo o que é vida, há nele a história do manto sagrado d’Aquele que ao mundo legou só o amor. Às margens tranquilas de Cafarnaum, por si levitou provando o poder que faz transmutar o que nos parece inimaginável.
De longe o encanto se perpetuou. Deu ao artista o que de mais belo há na poesia. Falada ou cantada, é música o que o mar nos soa por dentro.
E quando a lua lhe espalha o brilho noturno e molhado, toda a angústia que ouse fazer sentir-se no âmago, logo se cala perante o encanto. É Deus que nos fala. É vida que grita, que pulsa ardente na crença que impõe, se desesperança houver ao redor.
Difícil existir acima do mar, talvez na montanha, outra imagem do seio divino tão grandiosa, por este planeta que nos resplandece. Gorjeio de um pássaro, olhar duma criança, aceno de uma árvore que ao vento verdeja, semblante sereno da idade que avança, um botão que floresce na flor a caminho, tudo são vozes que clamam e fulguram na fé que ilumina. Mas é no oceano, tesouro do mundo, berço do ser, em que a Divindade mais se revela.
Seja em que tempo, estação ou lugar, primavera ou verão. Seja por onde andar nosso olhar, vindo do corpo ou da emoção, havemos de ter no espelho infindável sempre uma razão maior de viver.