A partir da atual pandemia a morte parece ter se banalizado tanto, tantas têm sido as perdas recentes, por conta da covid ou não. Parece ter a “indesejada das gentes” se instalado em nosso cotidiano como coisa corriqueira, despida do impacto que costumava acompanhá-la, pelo menos no nosso caso de ocidentais pouco educados para enfrentá-la como o fenômeno natural que é, e a despeito da milenar pregação cristã sobre a ressurreição e a vida eterna. Parece, apenas parece. Porque quando o desaparecimento de alguém próximo nos atinge, seja qual for a causa da partida, nos quedamos sem palavras – ou quase isso -, como se toda a racionalidade e todo o hábito cedessem lugar, completamente, ao puro sentimento da perda imensa.
Sim, é assim e, penso, não poderia ser diferente. Porque a morte anônima ou distante nos fere menos profundamente; nela estamos envolvidos apenas pela solidariedade que nos faz comungar do sofrimento alheio, característica de nossa humanidade. É assim nos casos de grandes catástrofes, das guerras, tudo aquilo que nos chega pelos meios de comunicação. Sentimos e nos solidarizamos em silêncio, sem dúvida. Mas é diferente quando o pesar bate diretamente à nossa porta, golpeando diretamente nosso coração.
Acervo familiar
Conheci-a primeiramente como professora da UFPB. Quantas vezes tive a oportunidade de atendê-la na Procuradoria Jurídica, aonde ia buscar orientação para melhor atuar nos seus deveres de magistério e de administração. Sempre preocupada com a legalidade dos seus atos, como se lhe fosse impossível agir ao arrepio da lei, mesmo nas mínimas questões. Eram assim a sua natureza e o seu caráter. Probidade à toda prova. E sempre agindo e falando com doçura, a voz baixa dos naturalmente educados, a discrição dos elegantes de verdade.
Depois, os caminhos da vida e as relações de parentesco não consanguíneo nos aproximaram mais um pouco, agora com mais afeto – e mais admiração -, como costuma acontecer quando a convivência se torna mais frequente e as pessoas se conhecem melhor. E devo ressaltar que a maior intimidade só fez aumentar meu apreço por ela, o que nem sempre acontece nesses casos.
Acervo Familiar
E como não lembrar de seu também saudoso esposo, o ilustre médico Mazureik Morais, de grande renome em nossa cidade, profissional de vasta e fiel clientela, e um dos líderes fundadores do antigo MDB, partido a que se manteve leal até o fim, numa bela demonstração de dignidade política, sempre acima e além das eventuais conveniências pessoais. Com ele, ela formou um dos casais mais distintos da sociedade paraibana, não a que brilha nos jornais, mas a verdadeira, a que é formada exclusivamente pelo mérito intrínseco dos seus componentes, independentemente de razões acidentais ou efêmeras.
Sei que falo por muitos e muitas quando afirmo, sem nenhuma dúvida, que a doce Giacomina fará muita falta aos que a conheceram e amaram.