Dr. Arnaldo Tavares sempre me lembrou uma peça do dramaturgo e ficcionista Luigi Pirandello: “Seis personagens em busca de um autor”. Só q...

Dr. Arnaldo Tavares, os livros

Dr. Arnaldo Tavares sempre me lembrou uma peça do dramaturgo e ficcionista Luigi Pirandello: “Seis personagens em busca de um autor”. Só que Dr. Arnaldo não era apenas seis personagens, mas mil e uma personagens, desde o médico, o poeta, o artista plástico, o cientista, o humanista, passando pelo boêmio, pelo causeur, pelo enxadrista, até outras tantas que ele desejasse ser, com a diferença de que não vivia em busca de um autor, pois, como no poema de José Régio, o poeta português, parecia dizer: “Não, não vou por aí, só vou por onde me levam os meus próprios passos”.

Tinha até graça um autor se apropriar de Dr. Arnaldo como personagem e conduzi-lo coercitivamente por caminhos que ele não gostaria de palmilhar! Decididamente, ele deixaria o autor atarantado, perdido, atônito, e tomaria os atalhos, os becos, as ruelas, as veredas, as avenidas largas ou os caminhos longos e ermos para chegar aos locais que bem entendesse. Por último, faria do autor uma criatura extremamente dócil, obedecendo às determinações do criador que ele passaria a ser.

Acervo Pessoal
Dr. Arnaldo foi um insubmisso, como insubmisso também o é o seu filho Flávio Tavares, artista plástico cuja obra reflete o atual momento político sem ceder um milímetro sequer ao panfletarismo vociferante, histérico e estéril em que se debatem, principalmente, os pseudopoetas deste imenso e infelicitado país de 8.516. 000 Km 2.

Já a casa da Rua Palmeiras, número 344, espécie de núcleo para o qual afluía uma geração de jovens para conversar, discutir e trocar ideias com o Dr. Arnaldo, Dona Otaviana e filhos, ainda deita raízes no ontem, ainda reverbera nas paredes as vozes daquele tempo, embora – na esteira do poema de Mauro Mota – tenha invertido “(...) a missão domiciliar: saiu da rua. A casa mora agora no antigo habitante”.
Os livros “Estudos etnomedicais sobre plantas no Nordeste do Brasil” e “Crendices populares sobre a bouba e as bananas”, ora editados graças a um esforço conjunto das Universidades de Pernambuco, da Paraíba e de Maringá, deveriam ter vindo à lume com o Dr. Arnaldo vivo, mas só foram publicados depois de 28 anos do seu falecimento.

É verdade que ele sempre foi um homem despojado com relação aos bens materiais e um dispersivo no tocante à sua propriedade intelectual, mas bem que tentou publicar os dois livros, embora só tenha encontrado evasivas, protelações e rodeios dos burocratas de plantão. Foi quando desistiu da empreitada, uma vez que não tinha temperamento para aturar o descaso ou o que quer que fosse com referência a uma obra que mereceu os encômios do grande Câmara Cascudo: “Arnaldo Tavares é surpreendente pela amplidão laborada em tenacidade e obstinação jubilosa. (...)sólido, real, positivo, mestre precioso na convivência intelectual, mas sobretudo é, partindo das margens do Sanhauá, um emocional exemplo, um exemplo paraibano de energia construtora, inalterável na obstinação magnífica em serviço da inteligência brasileira”.

Acervo pessoal
Os arquivos originais do Dr. Arnaldo Tavares permaneceram sob a guarda do casal Flávio e Alba Tavares, que os liberou, tornando possível a edição dos dois volumes pela Santa Marta, parque “gráfico alemão nas terras de roça de Mussuré, no nosso Distrito Industrial”, segundo Gonzaga Rodrigues. Mas outros nomes devem ser lembrados, a exemplo da editora MVC Forma, Centro Avançado para Inovações em Saúde – CAIS/ISG e a Fundação de Amparo para a Ciência e Tecnologia de Pernambuco – FACEPE, todos, sem exceção, responsáveis pela feitura dos dois volumes, cuja excelente feição gráfica deve-se ao apuro do poeta Juca Pontes. Já o pontapé inicial para a confecção dos dois livros deve ser debitado ao casal Ivan da Rocha Pita e Suely Lins Galdino, ela, inclusive, ex-aluna do Doutor Arnaldo Tavares.

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