Tua obra mais bela és tu mesmo.
(Léon Denis)Com esse iluminado pensamento do Filósofo Espírita Francês, inferimos que a maior obra que podemos ofertar à vida, somos nós mesmos. Trata-se de uma obra intransferível, gradativa, milenar, ancorada em valores eternos.
Convidamos o amigo leitor, a realizar uma viagem singela, no entanto profunda, pelas asas do pensamento e do sentimento. Queremos trazer ideias que toquem as fibras mais vibráteis da alma em seu vôo rumo à plenitude e a felicidade.
Que a Poesia através desse belo soneto de Vicente de Carvalho (1866-1924) possa colaborar na elaboração do conceito desse velho tema, a Felicidade.
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
De fato “Nunca a pomos onde nós estamos”, exprime essa arraigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.
Nossa viagem imaginária avança em busca de respostas a essas perguntas: O que torna a vida feliz? Onde se encontra a Felicidade? É possível desfrutá-la na terra?
A literatura no seu afã de iluminar revela ao sedento o caminho das pedras. Há um extraordinário Livro intitulado, o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, cuja inspiração reluz as máximas morais de Jesus, na sua simplicidade e beleza, permitindo ouvir os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, espalhando como estrelas cadentes, luzes nos caminhos, abrindo os olhos aos cegos.
Uma das pérolas foi trazida espiritualmente pelo Cardeal de Morlot: A felicidade não é deste mundo: “A felicidade não foi feita para mim, exclama o homem de todas as classes sociais. Prova melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade do Eclesiastes - A felicidade não é deste mundo. A falta de felicidade é uma queixa generalizada, sentida pelos homens de qualquer classe social, desde os que nada possuem de bens materiais até os mais ricos, desde os doentes até os que gozam de saúde, desde os jovens até os mais velhos.
Continua afirmando: “Nem mesmo a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor, são condições essenciais da felicidade. Diz mais: nem mesmo a reunião dessas três condições, tão cobiçadas...". Os dissabores, tribulações, dores e sofrimentos fazem parte da vida de todos os seres humanos. Todos, de alguma maneira, sofrem nesta vida terrena, o que nos leva a concluir que, de fato a felicidade plena não existe na Terra.
A razão não nos permite aceitar que a Terra seja a única morada dos seres humanos, que somente nela e, numa única existência, seja possível alcançar a felicidade que todos almejam, destino inserido por Deus na essência espiritual de cada um.
No Livro referência da Doutrina Espírita, o Livro dos Espíritos, Allan Kardec solicitou esclarecimentos aos Numes Tutelares, conforme se lê na pergunta 920: Pode o Homem gozar de completa felicidade na terra?
E eles redarguiram:
“Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na terra”.
Desse modo, a conquista da felicidade possível na terra se dará mediante esforço ingente oferecido pelo ser em evolução que se deixe plenificar.