Todos sabem o que é o “politicamente correto” – esse modo de pensar inclusivo, aberto às diferenças e inimigo dos preconceitos. Ele tem se estendido a vários aspectos da sociedade, mas estranhamente deixou de lado o Carnaval. Uma breve pesquisa sobre as músicas carnavalescas, no entanto, mostra o erro de tal omissão É verdade que há algum tempo se baniu “Tropicália” e "Cabeleira do Zezé" , mas não são apenas essas canções que embutem um conteúdo preconceituoso.
Resolvi então dar meu modesto contributo. Nosso cancioneiro carnavalesco, de fato, tem sido preconceituoso com determinados segmentos da sociedade. Ou com grupos historicamente injustiçados.
Ag. Brasil
Comecemos por "Aurora" . Trata-se de uma marchinha aparentemente inócua. Essa impressão muda quando se observam com atenção os versos iniciais: “Se você fosse sincera,/ô ô ô ô Aurora,/ veja só que bom que era,/ô ô ô ô Aurora.” A desconfiança sobre a sinceridade de Aurora reflete uma mentalidade machista. Se não é sincera, Aurora mente, e mentindo lança sobre as pessoas do seu gênero a sombra do ardil e da trapaça. Como não relacionar isso com a mentira que Eva pregou em Adão para que ele, inocentemente, comesse a maçã? Proponho que não se cante nem se dance mais “Aurora”.
E "Máscara Negra" ? Todos conhecem o clássico de Ze Kéti e Pereira Matos. É sem dúvida uma música bonita, mas lamento dizer que não deve mais ser cantada. Se não, vejamos.
CC0
Acho que se deve incluir também “Jardineira“ . Parece de um lirismo inocente, mas não deve mais constar no repertório carnavalesco. Quem não se lembra da letra? Indagada sobre a sua intensa tristeza, a moça responde que o motivo foi uma camélia que caiu do galho e morreu (depois de dar dois suspiros). O emissor diz então à moça que não fique triste porque ela tem o mundo ao seu dispor e (prestem atenção agora!) é muito mais bonita do que a camélia que morreu. Ou seja, ele aceita alegremente a morte da flor, o que mostra pouco respeito pela natureza (e, por extensão, pela ecologia).
Ag. Brasil
Fico por aqui a fim de não aborrecer o leitor. Minhas pesquisas, no entanto, vão continuar (a propósito, acabou de me ocorrer “Pirata da perna de pau" ; essa música deve ser banida por desrespeitar os deficientes físicos). Aguardem novas contribuições, pois considero o “politicamente correto” um baluarte contra as brigadas da intolerância e do preconceito. Ele ainda vai mudar este país!