Zapeando pelas muitas páginas deste universo internetiano, encontro em um blog pernambucano – Jornal da Besta Fubana, artigo que me fez pensar em outro tempo e comparar procedimentos daqui e de além.
Em alentado artigo, um dos colaboradores desse “jornal” – José Domingos de Brito, nos dá resumo biográfico de Rubens Borba Alves de Moraes, um dos pioneiros da biblioteconomia em nosso País, que exerceu papel relevante na difusão da profissão de bibliotecário e sua qualificação acadêmica, com a criação de um dos primeiros cursos de formação desses profissionais a funcionar no País, curso este que posteriormente veio a se integrar à Escola de Sociologia e Política, da USP.
Tendo como ponto básico de seu texto o papel exercido pelo bibliógrafo e bibliotecário paulista Rubens Borba Alves de Moraes, notadamente durante a época marcada pela revolução cultural que foi a Semana de Arte Moderna. José Domingos de Brito ressalta alguns fatos marcantes da sua vida, notadamente o período em que foi diretor da Biblioteca Pública de São Paulo, gestão marcada por inovações como o incremento da seção de obras raras e a criação de ônibus-biblioteca, instalados nas praças públicas, procedimento este fundado na sua concepção de que “biblioteca não é apenas um lugar para guardar livros; deve fazê-los circular entre os leitores.”
Nessa narrativa o autor nos leva não apenas a celebrar a memória de muitos daqueles que, como ele, contribuíram para a formação cultural da nação brasileira, como hoje a temos e nos faz, também, lamentar que muito do que brasileiros como ele fizeram não tenha, como deveria ter, a justa importância que seu exemplo nos legou. É o caso das bibliotecas públicas.
Vi-me, como disse acima, recuando no tempo e recordando que em épocas quase que imemoriais tivemos procedimentos governamentais que muito se aproximavam desse estilo de compreensão do mundo cultural, com o incremento de atividades que, de certa forma, procuravam conduzir a comunidade pessoense e, até, paraibana, para uma movimentação que consolidaria educação e cultura como um bem único a ser incentivado e preservado.
Já tivemos um movimento cultural marcante, fundado em processo de difusão que utilizava todos os meios que o Estado podia mobilizar.
Tínhamos promoções sazonais de eventos tais como feira de livros, festivais de teatro estudantil, apresentações musicais, um ônibus-teatro e até mesmo um “cinema educativo”, hoje um anacronismo ímpar, para a geração televisiva em que nos tornamos.
Disto tudo, o marcante, sem sombras de dúvidas, foram as bibliotecas setoriais, das quais se destacou a situada na Avenida Aderbal Piragibe, no bairro de Jaguaribe, àquela época, palco de um intenso movimento cultural, como muitos ainda podem lembrar.
Podemos, sem sombra de dúvidas, dizer que esta se tornou icônica, para aqueles tempos, talvez por ter sido a pioneira e, com essa situação, estabeleceu os padrões que as poucas que se lhe seguiram adotaram.
Parecia até que o mote cantado pelo bibliotecário e bibliófilo Rubens Borba Alves de Moraes se tinha tornado uma diretriz educativo-cultural paraibana programática. Lá, víamos estudantes, muitos ainda com as fardas escolares, a pesquisar dados para cumprir tarefas da escola; residentes a ler os jornais do dia e até a formação, em sua calçada, de tradicionais rodas de “bate-papo”.
Quase que tudo isso desapareceu, tornado anacrônico pela “aldeia global” em que estamos vivendo, onde, segundo o escritor Millôr Fernandes “Livre pensar é só pensar”.
No nosso caso, na “velha Paraíba de guerra”, há muito desapareceram tais manifestações, restando-nos apenas algumas lembranças fugidias e alguns restos daqueles monumentos que foram as bibliotecas, recolhidos a alguns desvãos que poucos conseguem localizar.
Parece até que também se foi o pensar...