É necessário buscar espaço para o silêncio — ocupar-se dele. Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. Existe u...

Bestando a apreciar bromélias

 
 
 
É necessário buscar espaço para o silêncio — ocupar-se dele. Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. Existe uma sonoridade distante no silêncio. As palavras estão sempre com seus olhos atentos a me observar do silêncio. O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades já não se escondem atrás de máscara. O temor das bocas não deve assustar as borboletas. Fosse eu íntimo do desentupidor de pia traria de volta cada arrependimento perdido no esgoto. A solidez de seus desejos é incompatível com meu chão de espumas. Tua sombra não tem o gosto que meu paladar deseja. O que se come           e se mastiga é alimento e não imagem. A loucura derramada de teus olhos é um desperdício de luas. E enfim se chega a determinado instante em que nos olhamos. Sabemo-nos diante do que nos cabe como definitivo. Sobrevivo na constância com que me afasto de sua insatisfação. Chega um momento em que toda saudade parte junto com o poema. Cada expectativa tem seu cheiro. E se esforça para caber no poema. Cada ilhéu trás uma concha guardada a sussurrar saudades. Somente o homem sabe do vazio sem pele no orgasmo cuspido. Qualquer relevo desdiz minhas convicções. Recomeço, e essa sombra de hoje nada diz do homem que fui. O passado são páginas de bordas marcadas que recorremos ao nos esquecermos de outros dias. Os dias repetem as cores do amanhecer dos teus olhos. qual a profundidade do azul suspenso nos olhos? Eu já lhe disse que, se você sentasse no céu, eu iria ficar o tempo todo empinando papagaio?... Esses dentes encrustados em seu anular não se removem com espuma. Pendurados no abismo, eu e você, agarrados ... A sobriedade não permite a palavra: amor. Licenciosa... a mosca verde contorna o corpo fendido. O poeta se debruça no caos – chupando manga. Que homem ruidoso medrou minha carne? Onde está a cuspideira, para que eu possa comemorar a soberba humana? O silêncio – pago adiantado. Perdão é presságio de erro. E o medo da solidão – um desperdício. Sou a água que degusto em outro tempo. Quando busco vozes perdidas no exílio rumorejo versos pretensiosos, ressuscito mortos. Vejo minha terra com olhar de bumerangue. Antes que o Céu se incumba do sumiço das estrelas, o menino desenhou um Sol para cada País. Tenho em mãos a cronologia do desespero. Sanha de corpos nos varais da memória. Há um deslize sobre cada pedra. Perdi meus tempos de insônia fiando futuros improváveis. Deixo tudo de periférico em nome da grandiosidade do infinito em que me abrigo. Não ser um poeta a escrever com a minúcia do descaso sobre o chão verde das matas. Gostaria de que o final do ciclo dos sóis visíveis me encontrasse bestando a apreciar bromélias. A minha imortalidade se encerrará com a minha morte. A suprema arte é a raiz dos ausentes. Deixarei para as ondas decidirem sobre a imortalidade de meu nome na areia.
Do livro Breviário dos olhos



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  1. "
    É necessário buscar espaço para o silêncio
    — ocupar-se dele.
    Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. "

    ( !!! )

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