No livro “Mitos e imagens míticas”, do professor e tradutor José Antonio Alves Torrano são estudados diversos momentos e aspectos do pensamento mítico em suas transformações e permanência nos períodos arcaico e clássico da Literatura Grega. O que é e quais são essas imagens que constituem os elementos e recursos próprios desse pensamento mítico? Como essas imagens distinguem e demarcam o verdadeiro e o falso, o justo e o injusto?
Como se organizam? Qual a dinâmica e o alcance dessas imagens míticas?Como a tragédia na Grécia se apropriou do legado do pensamento mítico? Por que a tragédia foi tão importante para o poder público em Atenas no séc. V a.C.? Como os atenienses pensavam sua vida política, pública e particular, mediante a tragédia como forma de educação estatal?
Por que e como Platão inaugura e elabora a sua filosofia em interlocução com o pensamento mítico? Quanto e como a compreensão do pensamento mítico grego arcaico e clássico nos permite compreender a filosofia dos Diálogos de Platão? No sentido inverso, a filosofia de Platão tem necessariamente esta servidão de passagem entre o nosso pensamento conceitual, sem o qual hoje nada podemos compreender, e o pensamento mítico, que a tudo compreendia por imagens muito antes de Platão chegar ao conceito?"
Nesta outra obra, o arqueólogo e historiador Paul Veyne lança a provocativa pergunta "Os gregos acreditavam em seus mitos?" para, logo em seguida, contrapor: a questão relevante não é exatamente esta. Em um estudo erudito e revelador, o intelectual francês revisita textos clássicos da historiografia e argumenta que tal indagação tem raízes na tradição dos homens das Luzes, que procuravam confrontar os ditos com os fatos. Para os antigos, no entanto, saber se a batalha entre Teseu e o minotauro realmente aconteceu não era fundamental.
Veyne explica que a noção de verdade dos gregos vinculava-se com a experiência cotidiana e com a credibilidade do locutor. "Para os contemporâneos de Píndaro ou Homero, [...] afirmações que eram estranhas à experiência não eram verdadeiras, nem falsas, tampouco mentirosas, porque a mentira não é mentira quando o mentiroso não ganha nada com ela e não nos faz nenhum mal: uma mentira desinteressada não é logro. O mito era um tertium quid, nem verdadeiro nem falso".
* excertos das obras mencionadas