Pela janela entreaberta vê-se o céu mudar. Da clareza do verão, passe-se a anuviada temporada das chuvas, o que chamam invernada. Dos tempos das árvores em nudez profunda cujas vestes foram removidas pelos ventos, que parecem fechar-se ao serem expostas, corre-se para mais adiante uma explosão de cores e cantos, uma algazarra de vida. A passagem visual é o reconhecer do relógio do tempo em efeito prático.
Visualmente são pequenas alterações quase imperceptíveis ao longo de tantos anos. Porém, para o olhar atento do observador fiel de cada dia abre-se um mosaico em movimento que após tantos ciclos dá-lhe a certeza que o lugar projetado pelo espaço retangular para suas órbitas oculares tem ganho grandes modificações. É montar um quebra-cabeça cujas peças alteram-se a cada ponteiro que salta à próxima casa.
E tudo é visto e é possível pela janela. Como perceber os encontros e desencontros das ruas, ler as mentes dos passantes e reconhecer as atualizações físicas. Engano ao pensar só em avanços, pois tudo é apenas uma corrida para um fim ou a uma desconhecida passagem e por vezes o seguir é decair. Pode-se até discutir, mas, no fim, não importa, o caminho terá, inexoravelmente, um desfecho. E até lá, sempre será possível uma parada para observar. Claro, há o pincel na mão para fazer retoques, construir um cenário mais bonito.
Um dia, as modernizações cessam, não são mais possíveis. É o momento de surgir o novo. Para o homem, já velho, é um novo estágio. Sua próxima atualização é uma incógnita.