No meu pouco juízo nunca entrou o fato dos Beatles terem composto aquela quantidade absurda de músicas maravilhosas enquanto eu quase nada fiz. Na verdade eu trocaria toda a minha produção musical por qualquer música de John e Paul, principalmente se fosse Yesterday. Aliás, conta-se que quando eles ainda estavam compondo essa preciosidade, o primeiro termo trabalhado foi “scrambled eggs”, ou seja, ovos mexidos. Fizeram uma excelente substituição optando por Yesterday.
Desde garoto meus pais sempre me levaram para o caminho da música. Enquanto meus amigos jogavam peladas de futebol à tarde, eu era conduzido coercitivamente por minha avó para as aulas do conservatório Antenor Navarro. Enchi o saco daqueles ditados rítmicos; tá- ti-tá-tá breu com cola! Mas gostava do piano. E aí apareceram os Beatles na minha vida. Só que eles tocavam guitarras, e a proximidade máxima que eu e meus primos chegávamos daquele instrumento foi improvisando numas vassouras. Pior ainda, ninguém sabia nada de inglês. Era uma beleza.
Os Quatro Loucos ▪ Zé Ramalho, Diágoras Jr, Floriano Miranda (em pé) e Golinha Miranda (sentado) ▪ Fonte DiscoGS
Zé Ramalho, com 15 anos, 1960s (Parahyba do Norte) ▪ Imagem acervo Nirton Venancio ▪ Blog Olhar Panorâmico
Mas eu estou embromando porque anunciei aqui que já fui compositor. E fui mesmo. Tenho duas músicas; a primeira delas em parceria com Cleodato Porto, composta quando tínhamos catorze anos e inscrevemo-la um festival de música popular. A outra música eu compus sozinho, no momento em que me avisaram da morte de minha mãe. Quem a conheceu sabe porque fiz um frevo chamado “A chegada de Dona Creusa Pires no céu”.
Pra quem já quis compor Yesterday ainda falta um bocado de chão, né?