Íntimo Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, o...

Esse crepúsculo atravessado na garganta

poesia espiritossantense jorge elias crepusculo
 
 
 
Íntimo
Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, os lábios, não se desviam do destino. Mas o súbito tranco da cancela dos dentes intimida o deslizar da língua. Hóstias - estrelas no firmamento da boca - aprisionaram o desejo. O corpo se abre e se fecha a partir da boca. Os lábios escancaram um vermelho escandaloso; e se cala.
Arquétipo – Um facho de luz sobre a sombra
O que se dispersa além dos olhos diz do vacilo de não se ter sorvido o tempo. Estarei na ultima idade. Quando ruir a biblioteca não restará mais nada. Sem nenhum escrúpulo, já estarei a mijar nas calças todas as cervejas que pensei esquecidas. Aprenderei que não só a memória, mas também a bexiga dos velhos, despejam seus guardados... E como ancião, terei em meus ouvidos um ruído agudo a dizer da morte ... (esse crepúsculo atravessado na garganta). Mas minha memória recente, sempre desatenta, privilegiará as flautas de antanho, olvidando a impertinência dos últimos segundos. Saberei que retive com primor uma certa dignidade burguesa. Execrada nos versos. Denunciada no franzir da testa. Em minha face retalhada, Será definitivo o rendado da ironia. Recearei de alguns saberes, sem dúvida. Mas um cristão tardio, espero não ser. Lembrar: não fechar o ciclo previsível de tantos homens. Não me permitir, ao menos, essa contradição.
O poema acima de mim
Se disser tudo, me restará apenas a última mentira. Mas rente ao chão, toda mentira resvala na inutilidade.
Os anjos são lívidos
Os anjos são lívidos demais para serem humanos. Preciso arrumar outros parceiros Para um jogo de cartas ... As palavras... A escrita... Elas encontraram sua hora!... Quando o poema parte resta algo como um vazio. É mais um instante em que me ludibrio. Plastificar o dia, as rosas, não dá sentido a imortalidade. Refugiar-se no verde e gritar; fazer-se o chamamento dos perdidos. Gerar um desvio do olhar, um torcicolo súbito frente a emanação do absurdo. Para meus sentidos Não importam as razões do azul do céu.

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