Na casa do meu primo Emmanuel Lugão a reforma começou com uma mijada de filho na cama. A esposa aproveitou e sugeriu trocar o colchão que já estava velho. O primo topou, mas na sequência ela reparou que a cama não estava à altura do colchão novo, daqueles super, hiper, anatômico, ultra, top confortável, magnetizado e de molas ensacadas, e logo decretou: vamos trocar essa cama também. Meu primo concordou, e ainda caiu na besteira de dizer que a cor do piso não combinava com a cama, foi a “deixa” para ela decidir trocar o piso por um porcelanato ultra-top-super brilho com placas de 1 metro por 1 metro, mas que infelizmente não aceitava “recorte”,
então tiveram que trocar o piso do corredor, sala e dos outros quartos. Ele levou um susto, mas depois que a esposa fechou os olhos passou a mão no ar imaginando a casa toda com aquele porcelanato “brioso”. Já era! Nem que a vaca tussa, a outra desiste da ideia.
Aí vem a fase do “já que”. A essa altura o primo já estava atordoado e nem opinava. Ela empolgada planejava: Já que vai trocar o piso, vamos modernizar o rodapé, já que vai trocar o rodapé, porque não pintar as paredes, trocar os quadros, mudar o lustre e rebaixar o teto da sala?
E o tal do “já que”, não acabava, e no “pacote” vem substituição de registro oxidado, de torneira antiga, vaso sanitário amarelado, luminárias, puxadores, luz de LED, etc. O golpe de misericórdia veio quando ela olha pra ele em estado de choque, afundado no sofá, de olhos arregalados e consuma o ato: “a decoradora sugeriu também trocar o tecido desbotado do sofá”. É nesse momento que uns desmaiam e outros infartam. No caso do meu primo foi infarto, mas se recuperou a tempo de ver a casa se transformar num canteiro de obras e o cartão de crédito deles baterem recorde.
Lá em casa o primeiro “dominó a cair” foi uma mudança de lugar de um vaso de planta. Nossa amiga decoradora que estava nos visitando, mudou um vaso de lugar, afastou-se um pouquinho, inclinou o pescoço pra um lado e pro outro apreciando a mudança e disse: “gente esse vaso ficou lindo aqui, mas tem que trocar o cachepô (nem sabia o que era cachepô). O cachepô “derrubou” a luminária que derrubou as cores da parede, o estofado do sofá, o piso do banheiro, vaso sanitário, chuveiro, torneira, espelho, armários, cabeceira da cama, luz de LED…
E agora, três meses se passaram, caçambas de entulhos partiram, cano de água foi furado, paredes mudaram de cor, muitos objetos chegaram e até o tapete na porta mudou, um dia, inclusive, achei que estava chegando no apartamento errado. Nem tudo foi perdido, com muito custo consegui evitar a troca dos filhos e da cachorra Lola, mas se demorasse mais uma semana até eu ia ser substituído por um mais moderno.