O olhar tem a velocidade da luz. Instantâneo, fulminante, radiográfico. Por ele flui o pensamento, ainda mais veloz. Quisera o olhar pudesse se acostar ao pensar e ser mais rápido que a luz.
Dos sentidos, o mais misterioso. O olhar fita, filtra, traduz em cores o que capta a íris. E pelo espectro mágico se faz pensamento, impressão, emoção. Tudo é bom quando é bom o olhar, já dizia Jesus.
O tato deleita. Gosto e olfato também. O que se ouve, então… a música, o canto dos pássaros, do mar, da brisa, da chuva. Chuva! Sentida na pele, cheirada, vista, escutada, é degustada pelos cinco sentidos. Uma bênção, a chuva.
O pensar como intuição é nosso sexto sentido. E que velocidade tem a inspiração! Ganha da luz. Imagine sentar-se nos anéis de Saturno e de lá ver a Terra, a Lua. O olhar que fulgura no sonho. O olhar de dentro, que imagina, reflete, olhar que voa!
Na cena de um certo filme, surgiu um vaso com uma planta murcha, seca. Mas o vaso era lindo, tinha arte, cor. De nós dois vieram expressões simultâneas, instantâneas, rápidas como a luz: - “Que pena”... E o outro: — “Que vaso lindo!” Um olhar compadeceu-se da planta, quase morta, dependurada pela textura da bela cerâmica. Não viu o vaso. O outro preferiu a beleza do design, da forma, quem sabe a se proteger da tristeza da planta, do outro olhar. São formas de sentir, de perceber. Espontâneas, repentinas, mais velozes que a luz.
É impossível medir a velocidade que pensa. Dizem os mentores, através dos médiuns, que os espíritos se locomovem com a rapidez do pensamento. Que maravilha. Se pesado pelo corpo, gosto de viajar, imagine como leve andarei pelo mundo quando em alma sem carne estiver...
Nosso tio Alberto Romero nunca viajou ao exterior. Era louco por Paris, que conhecia mais do que muitos parisienses, embora nunca ter ido por lá. Era um saber dos livros, da história, da cultura que nele eram fartos. Contaram-nos que, momentos antes de desencarnar, seu olhar se iluminou com a aura, tal como o de Goethe pedindo “Luz, mais Luz”, e exclamou encantado para a esposa: “Estive em Paris!”. Ela, espírita convicta, não teve dúvida. Decerto os laços do perispírito, já folgados, permitiram a rápida viagem, mais veloz que tudo. Era a luz que sonhava, a luz que voava, a luz que partia...