Distinguido por Josélio Carneiro para entrevista destinada ao livro que escreve sobre a Associação de Imprensa, duas lideranças sobressaíram por si mesmas, no correr da sua perenidade, como se a ausência nevoenta perdesse o seu tempo: Adalberto de Araújo Barreto e o velho José Leal, um dos fundadores, construtor da sede e presidente por mais de vinte anos.
Josélio não me provocou, particularmente, sobre a história da API, como se me dispensasse desse esforço de memória, que não seria esforço nenhum. Deixou-me falar. E veio fácil, o breve cenário em que fomos políticos de corpo e alma inteiros na fase mais ideológica da política brasileira.
Jornalistas arrebatados pela onda de modernização que aqui chegava pelos Jornal do Brasil e Folha de São Paulo, com destaque para o JB que cobria a ausência da teoria escolar no interior do Brasil com os seus Cadernos de Jornalismo, juntou-se aos graus dessa febre o posicionamento do profissional ante a realidade social brasileira. Se a moderna expansão urbanista do centro-sul se cercava de miséria, favela e barraco a roubarem o cartãoo postal da montanha, o Nordeste de cactos e pedregulhos acrescentava a esse deserto um dos índices mais escandalosos de mortalidade infantil. E os profissionais da informação e formadores de opinião, a serviço da elite social, completamente cegos e surdos apesar do charco em que pisavam.
E é nisso que entra a API de 1958/63, tomada, democraticamente, dos seus antigos fundadores. As redações dos jornais e das rádios, com as exceções de toda regra, identificam em Adalberto a nova liderança. E, de órgão de classe, lutando por benefícios, passa também a vertente de pensamento. O jornalista não é apenas o que sabe redigir, o que domina tecnicamente o objeto do seu ofício; é, também, o que dispõe de instrumentos para pensar a sua realidade. Para saber perguntar e investigar. Num país de natureza tropical das mais generosas do planeta, capaz de abastecer o mundo de alimentos e com 30 milhões de patrícios sem saber onde apanhar o pão do outro dia. País em que a fraternidade mais manifesta é a que aparece dadivosa na distribuição das festas natalinas.
Passaram-se mais de sessenta anos, e o Brasil de hoje não me deixa esquecer Adalberto, de texto clássico, apanhado aos 15 anos em Os Sertões, contista premiado no auge da onda brasileira no gênero. Os circunstantes da livraria onde sou ouvido são de outra geração, outra experiência, outra visão de mundo. E por que me vem o filme de Adalberto?
Pelo seu valor, naturalmente. Pela sua validade no tempo histórico de sua terra e do seu país.
Envaidece-me ter visto nele, recém chegado de Patos para escrever o editorial de “O Estado”, jornal de Nicodemos Lopes, em 1953, o parceiro, não só de leituras e sonhos sociais, como de presença espiritual além da que garante a vida de carne e osso, um sacrifício sem fim para metade dos brasileiros, por mais que “agro é tech”, “agro é vida”, a riqueza agrícola lavrada pelos dinossauros da automação