Nasci em João Pessoa em 1949, mas passei os cinco primeiros anos de minha infância em Alagoa Grande, para onde meus pais foram transferidos. Papai, coletor federal; mamãe, professora do grupo escolar e dona da única escola de datilografia da cidade, que, aliás, funcionava no terraço da nossa casa. Portanto, usava o trem João Pessoa—Alagoa Grande—João Pessoa com a mesma freqüência com que usava os bondes da capital.
Morei em Alagoa Grande, mas a cidade que me fascinava mesmo (desculpem os nascidos em Alagoa Grande) era Areia. Areia me fascina até hoje, embora enfrente os mesmos problemas de todas as cidades brasileiras: enorme descaracterização arquitetônica e barulho, “praga” onipresente nos dias de hoje.
Alagoa Grande é um buraco cercado de muralhas. Observando bem, as serras de lá são verdadeiras muralhas. Quando o calor apertava e as muriçocas começavam a infernizar ainda mais a vida das pessoas (como tinha muriçoca em Alagoa Grande!), pedia insistentemente ao meu pai para irmos “passear no céu”. O céu era Areia.
Subir a serra, curtir aquele friozinho europeu, passear de mãos dadas com meu pai, em Areia, ouvindo sonatas de Chopin vindas dos pianos das casas, no finalzinho de tarde, era como gozar as delícias do paraíso, pertinho das nuvens.
Mas, acabou-se o que era doce. Areia, como qualquer outra cidade do Brasil, província ou metrópole, foi devastada pela interminável (des)ordem política, social e econômica, “avalanche” que arrasou cidades e homens. Até a terra úmida e o friozinho de todos os dias, Areia não tem mais.
Felizmente, guardo na memória o que vivi de mais doce. A esta altura do campeonato, o jeito é seguir conformado com o que dizem os modernosos: “os tempos são outros”. Mas, vem cá, isso é verdade que se diga ao coroa que vos tecla???!!!