Sem dúvida, aquele final de semana foi diferente ou talvez, estranho demais para ser ignorado. Numa sexta-feira pela manhã, havia tomado a terceira dose da vacina, e, à tarde, mesmo com o braço doendo um pouco, resolvi encarar uma faxina na varanda.
Depois, bateu um cansaço que me levou a parar. Da televisão, ligada no quarto, ouvi repetidas vezes o nome de Caratinga, minha cidade. Ao me aproximar, deparo-me com a imagem de um avião caído no meio de uma cachoeira.
A repórter transmitia ao vivo e informava que um dos ocupantes do avião era a cantora Marília Mendonça que, confesso, conhecia de nome, sabia ser cantora de música sertaneja, e só. Ao mesmo tempo, a repórter informava que todos os passageiros já haviam saído do avião e estavam no hospital de Caratinga. Respirei aliviada, dei graças a Deus e curiosa, continuei assistindo.
Telefono para minha filha, que esclarece ser a cantora uma artista muito conhecida e enquanto falávamos, vejo tirarem um dos corpos de dentro do avião. A estranheza começava. Outro corpo sendo retirado e desta vez, podia-se constatar que era o da cantora. Consternação geral.
Uma moça de vinte e seis anos, mãe de um bebê de quase dois aninhos. Impossível não sentir um enorme pesar diante disso. Depois veio a comunicação oficial de que todos os ocupantes do avião haviam falecido.
Repentinamente, Caratinga era o centro do mundo e eu imaginei a tristeza que meu povo estava sentindo. De um show aguardado, onde certamente a alegria predominaria, as pessoas se tornam testemunhas de um acidente que causa uma tristeza enorme por todo o país.
Se alguém souber os porquês de uma tragédia, me explique. Pode ser desígnio de Deus, destino, fatalidade, a tal hora que chegará para todos. Independentemente da explicação, não sou convencida. Apenas constato a fragilidade do tempo, a impossibilidade de se ser previsível, a premência de se viver o instante, o agora.
O antes e o depois andam de mãos dadas e, ao se desligarem, surge o nada, esse vazio preenchido pela surpresa, pelo absurdo da morte, principalmente de pessoas jovens.
Restou-me recorrer a Deus e desejar de coração que os familiares de todos que faleceram naquele acidente pudessem ser consolados. Que as mensagens que a cantora Marília passava através de suas músicas possam continuar ressoando para todos os seus fãs:
“Deixa!
Deixa mesmo de ser importante
Vai deixando a gente pra outra hora
E quando se der conta, já passou
Quando olhar pra trás, já fui embora”...
Da música Eu Sei de Cor (Antonio Jr / E. Carvalho / G. Pereita / L. Silva).
Interpretada por Marília Mendonça