Acabei de ler essa frase. Passei o dia inteiro tentando fazer desse dia mais um dia, apenas.
Mas há, existe de fato, uma vala que foi aberta na alma e que guarda memórias que nem sabia que tinha e que pulam pra fora à medida que o tempo vai passando.
Essas memórias de dois anos atrás trouxeram, no último dia dezessete, além das feições doídas e espantadas, vozes chorosas das pessoas que amo e que me amam também, diante do momento da minha (nossa) inexplicável prisão, uma mistura de sentimentos: solidão, indignação, medo, coragem…
Na verdade, um lamento profundo por constatar que não terei como dar ao meu pai momentos de alívio, e alegria nunca mais! Como arrancar do meu filho um questionamento tão forte diante do “sentido da vida” que tenho percebido nele, um jovem de vinte e poucos anos. Tirar da minha filha, que sempre gostou de voar, uma necessidade de voltar pro ninho, mesmo em meio ao caos. Tirar do meu companheiro a apreensão que resulta dos meus movimentos, meus pensamentos, minhas palavras.
Esse dia existiu! E isso está marcado. E essa marca nunca será boa.
Não há como reverter o que a minha vida se tornou ao longo desses dois anos. Apenas há meios de tentar fazer com que tudo isso não piore. Que a justiça tire a venda dos olhos e olhe em nossa direção. E que seja capaz de proporcionar o dia que vou andar até Jacumã para tomar um banho de mar livre da tornozeleira. O dia em que eu possa encontrar meus companheiros de luta e de trabalho para um forte e demorado abraço, sem medo de ser feliz. O dia em que receberei de volta meus bens (mesmo que poucos), meu passaporte (mesmo sem viagem alguma pra fazer), minha inocência e minha liberdade e assim possa libertar todos a minha volta.
Torço para que a justiça me apresente esses dias que lembrarei para o resto da vida com alegria. Só assim, este dia, 17 de dezembro, com o tempo, cairá no esquecimento…
Desejo que tenhamos todos um bom final de ano! Um feliz Natal!