Os poetas místicos buscam resposta para as inquietações motivadas pelas transformações em seu redor, sejam de ordem espiritual ou material, porque alteram a paisagem da vida e atormentam a alma.
Em qualquer época de nossa vida ou situação como a que se vive nos dias atuais, é tempo para buscar resposta nos poetas e místicos. Respostas que vêm de quem contempla o mundo com os olhos do coração e afastam a dor com uma metáfora.
Em qualquer época de nossa vida ou situação como a que se vive nos dias atuais, é tempo para buscar resposta nos poetas e místicos. Respostas que vêm de quem contempla o mundo com os olhos do coração e afastam a dor com uma metáfora.
Um desses poetas é Dom Helder Câmara, sábio e profeta que deixou lições a partir da convivência com os menores, porque trazia consigo a mensagem do Homem de Nazaré, aperfeiçoada na mística de outros sábios. Ambos nos ensinam que “a grande caridade é ajudar a fazer justiça”.
A caridade, hoje, está ausente na convivência de muitas pessoas. Falo apenas de nosso País para não entrar no terreiro alheio. Temos visto posições políticas que certamente contradizem o ensinamento do profeta da não-violência que viveu entre nós há mais de dois mil anos, e sua mensagem repercute nos corações e nas mentes dos que trabalham pela paz.
A gentileza plenifica a caridade, mas quem vive no andar de cima nem sempre olha para baixo, nem ao redor. A corda aperta do lado dos menores, esses que pagam pelo que não construíram na sociedade dos desiguais.
Faltam mãos que afaguem, por isso a caridade se torna mais escassa. Sem entender as palavras de poetas místicos, e sem as colocar em prática, cada vez mais no poço da vida borbulha violência.
Depositamos confiança em governantes que escolhemos, no desejo de que sejam homens sensatos para com a nossa dor, mesmo que não observem os místicos e os poetas. Poetas e místicos nunca se distanciam de nós, nem nos deixam órfãos porque suas mensagens constroem em nossos corações o edifício que nunca será destruído.
Estes místicos ensinam que nasce esperança a cada alvorecer, ou quando o Sol rompe as nuvens, por mais escuras que sejam e, alcançando o zênite, derrama fachos de luzes ainda mais intensos sobre nossas cabeças. Esperança renovada a cada ano que começa, a cada dia que nasce, a cada gesto de amabilidade.
Sempre há esperança de que profetas, como Dom Helder Câmara, apontem caminhos, proporcionem a unidade e nunca o distanciamento. Precisamos de profetas a nos orientar com sabedoria. Queremos políticos nos quais possamos confiar. Mas nosso grande erro é confiar em políticos.
Faltam políticos que tenham preferência pelos pobres. Mas sobram os que saboreiam a ganância, que escorraçam os indigentes e espalham a mentira, desinformam. Ainda há em quem acreditar?
Por mais sombrio que sejam os dias, nem mesmo assim deixaremos de acreditar que a embira, mesmo com nó apertado, haverá quem possa desamarrar. Os místicos, que são o sol no zênite em nossas vidas, ensinam acreditar em sonhos. Nos ensinam a olhar com os olhos da imaginação. Eles nos ajudam a desamarrar o nó por mais que seja acochado.
Nossa esperança é que as árvores geradas do próximo plantio deem bons sombreiros e produzam frutos menos amargos. Tudo depende da semente que plantamos, mas quase sempre acreditamos em políticos que não merecem essa confiança. Depois da tempestade, certamente virá a geração da paz e do amor. Para que isso aconteça, basta compreender, vivenciar e ensinar a mística do Homem de Nazaré.
Pode-se até mutilar sonhos, mas jamais será possível cortar suas raízes, especialmente se as raízes estejam plantadas em terra fértil. Na paisagem do amor existe muitos caminhos a seguir. Um terreno em que o bispo da solidariedade ensinou cultivar. Quando vivemos no cenário de desesperança, chegam falsos profetas que não têm amor por ninguém. Mentem e enganam. Constroem calças com bolsos cada vez mais largos. Protagonizam gestos que nos deixam sorumbáticos e apreensivos com as tempestades que saem de suas mentes.
O poeta e o místico contribuirão para mudar o quadro de dor e incertezas. Repito uns versos da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen que apontam esse quadro angustiante:
“Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
a luz do sol se tornou impura
(…)
Este é o tempo em que os homens renunciam”.
(“Este é o tempo”, do livro Mar Novo). dd\
Para repelir o quadro de dor protagonizado por governantes opressores, a poetisa lusitana ressalta que é:
“Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de Negação”.
(Poema “Data” do Livro Sexto).
Acredito nos poetas e místicos que profetizam a beleza da poesia como bálsamo para as incertezas. Afinal, ainda há tempo para sonhar.