“Eu não gosto de você, Papai Noel! Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia. Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia. Você talvez nem se recorde mais. Cresci depressa, me tornei rapaz sem esquecer, no entanto, o que passou. Fiz-lhe um bilhete pedindo um presente e a noite inteira eu esperei contente. Chegou o sol e você não chegou.
Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso chegara às suas mãos no fim do mês. Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas, meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade. Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele seu brinquedo? Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar como quem não quer abandonar um mimo que nos deu quem nos quer bem e disse medroso: “O senhor vai trocar ele? Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
A poesia é de Aldemar Paiva. Desculpem, gostaria de ter algo mais alegre para lhes dar nesse natal, porém lhes presenteio com a chance de saírem do seu conforto agora, ainda sob essa emoção e procurarem um humilde na rua dando-lhe qualquer alento. Comida, grana, uma roupa velha... quem sabe um abraço! Vocês terão então o verdadeiro sentimento do natal.