Haverá ou não Carnaval? Alguns governos estaduais e municipais já decretaram que não, mas ainda não há uma resposta definitiva para essa pergunta. Por via das dúvidas, vou deixar no fundo do baú a fantasia que comprei há algumas décadas e pretendia estrear na próxima festa de Momo. Ela está empoeirada (um pouco mais do que o dono) e precisa de uma lavagem que lhe remova o bolor.
Nunca fui o que se chama de folião. Não vou a clubes nem participo de blocos. Tampouco desapareço de casa no sábado para só reaparecer na manhã da quarta, ressacado e com marcas suspeitas na roupa. Confesso que essa inapetência para a euforia momesca me traz algum sentimento de culpa (se não é a culpa que a produz). Para aplacar o remorso, mantenho a fantasia no baú com a esperança de um dia vesti-la e sair por aí. Para fazer o quê, ainda não sei, mas não seria algo que se pudesse publicar neste espaço.
Ouvi de alguém que a exibição da filharada era uma estratégia para comover as pessoas em seus automóveis e fazê-las baixar os vidros. Mesmo sendo verdade, não se pode aceitar que os pais que se prestam a esse papel disponham do mínimo essencial para sobreviver. O País empobreceu mesmo, e não se precisa de estatísticas para comprovar isso. A miséria salta aos olhos e espeta o coração das pessoas sensíveis.
O Carnaval não resolveria esse e outros problemas, mas permitiria que por um momento nos alheássemos da incômoda realidade. É melhor se deparar nas calçadas com “blocos de sujos” do que se confrontar diuturnamente com a sujeira que as vem impregnando.