Eita, Jesus. Hoje é Natal! Espiando o céu, ontem à noite, vieram-me lembranças das bordas do Mar da Galileia, de Cafarnaum, da sinagoga e da casa de Pedro, por onde Teus pés passearam, Teu Espírito derramou luz e nossos olhos, um dia, por lá andaram… E sempre nos vem a indagação sobre como um personagem de um lugar simples e humilde, nascido sob perseguição e fuga, acolhido de maneira extremamente rústica, adquire força tão poderosa que se espalha pelo planeta e se mantém presente em praticamente tudo?
Eita, Jesus. Hoje é Natal! Quantas transformações o mundo sofreu na história que a Tua história dividiu em duas… Quantas mudanças ao longo de mais de dois milênios, e, através delas, Tua imagem persiste, encravada na Arquitetura, na Música, nas Artes, na Religião, na Filosofia, no pensamento e na conduta humana.
Dizem que é hoje o Teu aniversário. Outros acreditam que chegaste ao mundo em outra data. Não importa, são apenas números, rótulos, convenções. O que importa é a carga luminosa de Tua passagem entre nós. Com mensagem instigante, devastadora, abalaste costumes, questionaste normas, preconceitos, intimidaste o poder, sem discriminar absolutamente ninguém. E das maliciosas sinucas em que Te colocaram, soubeste sair com admirável sabedoria.
Em época de barbaridades e injustiças, arbitrariedade e ultraje aos direitos humanos, falaste de amor, dos valores eternos, da transitoriedade da vida, da beleza dos lírios, da pureza das crianças, da solidariedade, da tolerância, valorizando a mulher como nenhuma religião até hoje valorizou.
Andaste entre ricos e pobres, bons e maus, sem considerar que tais condições pudessem ser obstáculos para mostrar o caminho do bem. E na hora de escolher o Teu apostolado, não foste em busca de doutores, de sábios, de sacerdotes, mas de gente do povo, gente humilde, do mar, provando que o valor espiritual está muito acima dos títulos e do conhecimento que nem sempre auferem nobreza, nem educam sentimentos.
Reverenciaste Deus como o Pai, Criador de tudo e de todos, à cuja imagem devemos respeito e humildade. Não um deus tirano, capaz de condenar ao sofrimento eterno, mas o Deus que se imanta na força das leis perfeitas e imutáveis, que tudo regem, do voejar de um simples besouro na relva ao trovejar fulminante de uma tempestade.
Ensinaste-nos a orar em recolhimento, sentindo a presença divina em todos os céus, em todos os mundos, visíveis e invisíveis - “Na casa do Pai há muitas moradas”. E na oração que nos deixaste como modelo, bendisseste um reino de paz e harmonia que se reflete na Inteligência Suprema dos mecanismos que coordenam desde os bilhões de galáxias que desfilam pelo esplendor infinito aos fenômenos e mutações do mundo microscópico, alertando-nos de que nada escapa das leis que sustentam a Ordem do Universo, expressas no "Pai Nosso" como a “Tua vontade”.
Elegeste o alimento nosso de cada dia como dádiva sagrada, a que devemos ser sempre gratos, reverenciando-o não apenas como bênção e fonte de vida, mas como símbolo da generosidade da Natureza. Generosidade expressa na fértil gratuidade, que não soubemos aproveitar com justiça e fazer com que seus frutos chegassem a todos os seres aqui nascidos.
Lembraste-nos dos rigores da Lei de Causa e Efeito, da semeadura e inexorável colheita, para entendermos que seremos perdoados exatamente na mesma medida com que soubermos perdoar. E, quase ao final de Tua jornada, advertiste: “Meus discípulos se conhecerão por muito se amarem”. Elegendo o amor como regra incondicional à evolução. Muito mais do que as crenças e religiões institucionalizadas após partires, em que os Teus ensinamentos tomaram rumos tão diversos, com interesses e pregações distantes de Tua mensagem, esquecendo de dar de graça o que de graça se recebe.
Eita, Jesus. Hoje é Natal. De uma forma ou de outra, uma data em que és lembrado, homenageado, embora não exatamente da maneira como ensinaste, com a simplicidade de Teu exemplo, com a advertência feita sobre a verdadeira família, cujos laços estão muito além dos traços genéticos.
Mas, é Natal. Válido e louvável como qualquer referência que a Ti façamos e que mantenha acesa a esperança de que dentre as tantas transformações por que passamos, algo do Teu Evangelho - o maior e atemporal código de conduta já deixado na Terra - brote dentro de nós. Principalmente a consciência do respeito aos semelhantes. Principalmente a consciência da evolução, tão bem expressa na máxima advertência de que “ninguém verá Deus se não nascer de novo”.
Afinal, o fenômeno da existência se resume verdadeiramente em “Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei.”