Já fui assistente de direção e ator de cinema. Na primeira metade dos anos 70, fazendo o Curso de Direito, fui assistente de direção de Barreto Neto no curta-metragem “O Estranho Caso de Leila”, em super 8, com Anco Márcio e Fernando Castro como protagonistas.
Barretinho e Fernando Castro eram meus colegas de trabalho na Secretaria de Divulgação e Turismo (atual Secom), mas não me recordo onde Anco Márcio trabalhava na época. O que sei de Anco é que foi um grande ator, sobretudo de teatro.
O filme foi baseado num episódio da crônica policial da cidade, no qual o rapaz conhecido como "Leila" (Anco Márcio) matou e esquartejou o corpo do seu parceiro (Fernando Castro), para poder tirar o cadáver da pensão onde ocorreu o crime. As filmagens foram feitas num velho casarão, já demolido, na Av. D. Pedro II, quase em frente ao pórtico de entrada do Mercado Central.
Pouco tempo depois estive no elenco de “A Guerra Secreta”, também em Super 8, filme com argumento e roteiro de Marcos Luiz, direção de Antônio Barreto Neto, e Sílvio Osias como assistente de direção.
No filme, eu fazia o papel de um gerente de banco que acabava estrangulado por um funcionário, interpretado pelo próprio Marcos Luiz. A cena foi filmada numa manhã de sábado, no extinto Banco Mercantil do Norte, que ficava no Ponto Cem Réis.
“A Guerra Secreta” mostrava uma sequência de pessoas se rebelando contra o princípio de autoridade — a tal guerra secreta do título. Enquanto isso, as pessoas iam voltando a uma vida primitiva.
Nunca mais encontrei Marcos Luiz. Ele era bancário da Caixa Econômica e durante certo tempo foi militante sindical da sua categoria. Provavelmente está aposentado. Lembro-me que uma vez me apresentou o “rolo” do filme, segundo ele “pronto para ser exibido”.
Da minha primeira e única incursão como ator de cinema trago na memória duas testemunhas: Sílvio Osias e Marcos Luiz, que, suponho, ainda esteja vivo. Já como assistente de Barretinho, todos estão mortos: Barretinho, Anco Márcio, Fernando Castro e o velho João Córdula, fotógrafo de nove entre dez produções daqueles tempos primitivos e heroicos.
Se a Paraíba se orgulha de ter o seu “cinema inacabado”, posso dizer que estou entre os operários de um certo cinema desaparecido. Nem eu consegui ver as películas das quais participei com tanto entusiasmo.
Há algum tempo, em seu blog, Sílvio Osias andou tratando do tema. Por ser uma espécie de sequência do que relato, além de fazer referência ao nosso W. J. Solha, colaborador do ALCR, achei interessante anexar o que diz o jornalista, escritor e crítico paraibano, em breve comentário a uma postagem nossa no Facebook:
Uma aventura de amor ao cinema
A propósito de um texto que o jornalista Petrônio Souto postou no Facebook, lembro que “A Guerra Secreta” foi um curta-metragem em Super 8 realizado por Antônio Barreto Neto em 1975. Barreto, nosso melhor crítico de cinema, dirigiu a partir de um roteiro de Marcos Luiz, que era também o produtor. Marcos, funcionário da Caixa Econômica, publicara na época um livro de contos chamado “O País dos Esquecidos”.
O filme contava a história de pessoas que desafiavam de forma violenta o princípio de autoridade. Um filho matava o pai e a mãe, um bancário matava o gerente da agência, um sacristão matava o padre. Entre um crime e outro, as pessoas fugiam da civilização em direção ao mar.
W.J. Solha era o filho que matava os pais (Mário e Vitória Chianca). Marcos Luiz, o bancário que matava o gerente (Petrônio Souto). Meu tio Roberto Osias, o sacristão que matava o padre (Meireles, um colega de trabalho de Barreto).
A cena filmada na casa de Solha foi tão realista que fiquei com a impressão de que Mário e Vitória Chianca saíram realmente machucados. Os filhos de Solha, Dmitri e Andrea, eram duas crianças lindas que atuaram como figurantes.
Eu era o assistente de direção. O fotógrafo foi o nosso querido João Córdula, diretor do Cinema Educativo. O filme não foi concluído, e, anos depois, meu pai, Onildo Lins de Albuquerque, fez uma montagem possível com o material que conseguimos filmar.
“A Guerra Secreta” ficou na minha memória como uma singela aventura de amor ao cinema comandada por Antônio Barreto Neto. Antes, Barretinho concluíra “O Estranho Caso de Leila” e deixara inacabado “Uma Aventura Capitalista”.
Por Sílvio Osias
A propósito de um texto que o jornalista Petrônio Souto postou no Facebook, lembro que “A Guerra Secreta” foi um curta-metragem em Super 8 realizado por Antônio Barreto Neto em 1975. Barreto, nosso melhor crítico de cinema, dirigiu a partir de um roteiro de Marcos Luiz, que era também o produtor. Marcos, funcionário da Caixa Econômica, publicara na época um livro de contos chamado “O País dos Esquecidos”.
O filme contava a história de pessoas que desafiavam de forma violenta o princípio de autoridade. Um filho matava o pai e a mãe, um bancário matava o gerente da agência, um sacristão matava o padre. Entre um crime e outro, as pessoas fugiam da civilização em direção ao mar.
W.J. Solha era o filho que matava os pais (Mário e Vitória Chianca). Marcos Luiz, o bancário que matava o gerente (Petrônio Souto). Meu tio Roberto Osias, o sacristão que matava o padre (Meireles, um colega de trabalho de Barreto).
A cena filmada na casa de Solha foi tão realista que fiquei com a impressão de que Mário e Vitória Chianca saíram realmente machucados. Os filhos de Solha, Dmitri e Andrea, eram duas crianças lindas que atuaram como figurantes.
Eu era o assistente de direção. O fotógrafo foi o nosso querido João Córdula, diretor do Cinema Educativo. O filme não foi concluído, e, anos depois, meu pai, Onildo Lins de Albuquerque, fez uma montagem possível com o material que conseguimos filmar.
“A Guerra Secreta” ficou na minha memória como uma singela aventura de amor ao cinema comandada por Antônio Barreto Neto. Antes, Barretinho concluíra “O Estranho Caso de Leila” e deixara inacabado “Uma Aventura Capitalista”.