Não há a menor probabilidade de brumas em João Pessoa, muito menos no mês de dezembro. Qual o sentido do título, então? Expliquemos. Como ...

As Brumas de dezembro

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Não há a menor probabilidade de brumas em João Pessoa, muito menos no mês de dezembro. Qual o sentido do título, então? Expliquemos. Como nos encontramos no hemisfério sul, o sol está, neste momento, fazendo uma aparente caminhada em direção ao sul, saindo do período equinocial, para entrar no período solsticial. No mês de setembro, entramos no equinócio da primavera, iniciando a estação dos dias mais longos que as noites. No dia 21 de dezembro, data do solstício de verão, com o sol na constelação de Sagitário (de 18/12 a 18/01), acontecerá o dia mais longo do ano.

O sol continuará indo para o sul, em direção à constelação de Capricórnio (de 19/01 a 15/02), de onde fará o retorno, tendo completado a sua eclíptica, em direção ao norte. O clima, já quente para nós,
R. Faciroli
tenderá a esquentar ainda mais e só amenizará um pouco após o equinócio de outono, em 20 de março, quando o sol entra na constelação de Áries (19/04-13/05), cabeça do Zodíaco. No auge do verão, começando agora neste mês de dezembro, um dos lugares mais quentes do Brasil será Sorocaba, no interior de São Paulo. O motivo? O Trópico de Capricórnio passa por cima dessa cidade.

O que tudo isto tem a ver com brumas? É que, no hemisfério norte, neste instante, início de dezembro, o outono começa a sua despedida para dar lugar ao inverno. Com o equinócio de outono, em setembro, naquele hemisfério, o sol diminuiu a sua intensidade e a sua claridade, cujo ponto culminante é o solstício de inverno, no dia 21 de dezembro, data do dia mais curto do ano.

É durante o outono, portanto, e com a proximidade cada vez maior do inverno, que as brumas começam a surgir. Dias sombrios e enevoados são comuns nesse período, no hemisfério norte. O interessante é observar que a origem da palavra bruma está ligada ao fenômeno dos dias mais curtos, entre o outono e o inverno. O substantivo bruma, brumae, em latim, é proveniente de *breuĭma, forma sincopada de breuissĭma, feminino de breuissĭmus, -a, -um, por sua vez superlativo de breuĭs, breuĕ, breve. O termo bruma, que se refere ao dia mais curto do ano, o solstício de inverno, origina-se, pois, de *breuĭma ou breuissĭma, palavra de que se subentende a expressão diēs *breuĭma ou diēs breuissĭma, o dia mais curto, o dia mais breve do ano:

breuĭs > breuissĭma (diēs) > *breuĭma (diēs) > bruma
A relação entre bruma, o solstício de inverno, e bruma, o nevoeiro, se dá por metonímia, tendo em vista, ser o inverno o período de frequentes nevoeiros. Quem nos fala sobre isto é o poeta latino Ovídio (43 a. C. - 17 d. C.), nos Fastos, um dos livros mais importantes do mundo ocidental, para a compreensão do calendário e da sua relação com os astros, quando põe a divindade bifronte Jano, explicando ao poeta, o porquê de o ano começar em janeiro, mês de que esta divindade – que olha, a um só tempo, para o passado e para o futuro –, é patrono (Livro I, versos 163-164):

Bruma noui prima est ueterisque nouissima solis; Principium capiunt Phoebus et annus idem.
O dia mais breve do ano é o primeiro do novo sol e o último do velho; Febo e o ano encerram o mesmo princípio.

O vocábulo bruma também serviu ao calendário revolucionário francês, criado em 1792, durante o período político da Convenção Nacional (1792-1795), com a Primeira República. Denominou-se Brumário o segundo mês do novo calendário, baseado nas estações do ano e nas atividades laborais da agricultura, cujo início se dava 30 dias após o equinócio de outono, e vigorava entre 22 de outubro a 20 de novembro,
quando as brumas começam a se tornar mais fortes. A notoriedade do vocábulo veio com o golpe de estado do então general Napoleão Bonaparte, derrubando o Diretório republicano, instaurando o Consulado e, logo depois, em 1804, o Primeiro Império. O golpe se deu no Ano VIII dia 18 de brumário, segundo o calendário imposto (1792-1805), correspondendo ao dia 9 de novembro de 1799.

Com um golpe semelhante, em dezembro de 1851, Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte, mantém-se no poder, à revelia da constituição, e abre caminho para o Segundo Império, em 1852, quando se tornará Napoleão III. O fato levaria Marx a escrever o famoso livro O Dezoito de Brumário de Luís Napoleão (1852).

Como podemos ver, as brumas da natureza começam no outono, época propícia para o plantio, e se tornam fortes no inverno, quando as sementes precisam descansar para a germinação. Já as brumas da alma humana escondem mais do que as sementes, que proporcionam a continuidade da vida; escondem as ambições políticas do ser humano, na sua loucura pelo poder.

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  1. Gosto que me enrosco de textos como esse. Nos anos 70, quando escrevia o romance A Verdadeira Estória de Jesus, tive em mãos a tradução feita por Sabado Dinotos do texto massorético com os cinco primeiros livros da Bíblia – o Pentateuco. Massora seria a grande tradição judaica, e esse sistema permitia ler a Bíblia “como realmente fora escrita, em hebraico sinaítico”. Espantei-me, de cara, ao ver que o nome certo de Moisés teria sido... Phoibon - Fóibon, e o de Séfora, sua mulher, Plêion.
    - Porra-louquice – concluí.
    Mas fui até o fim. Quanto estive em Paris, 2015, me detive ante o portal esquerdo da fachada da catedral de Notre Dame. É cercado de onze signos do zodíaco, a mãe de Cristo centralizando tudo no pilar central, como sendo o signo de Virgem, “porque sua constelação se situa de tal modo, no Oriente, entre 24 e 25 de dezembro, que o sol nasce exatamente sob ela – donde o parto da donzela”. Cristo, a Luz do Mundo – segundo A ORIGEM DE TODOS OS CULTOS, de Dupuis, teria sua trajetória seguindo a do sol pelo zodíaco. O nome Phoibon poderia ser Febo, Febo-Apolo, deus-sol da mitologia grega. A partir disso foi só seguir os eventos mais importantes do evangelho pra ver, por exemplo, que o batismo deriva do homem do Aquário, e o julgamento de Jesus e Barrabás ( Bar Abbas – Filho do Pai ) tem a ver com o signo de Gêmeos, etc, etc, mas embatuquei na cena de Jesus com a Samaritana junto ao poço, ( assim como a de Moisés com Séfora ) o que acontecia no signo de Touro. Para ver se decifrava o enigma, saí, certa tarde, da agência centro do BB em João Pessoa, onde trabalhava, e fui ao prediozinho com cúpula cor de chumbo que havia exatamente atrás do banco, na 13 de maio, cúpula – pra ser mais exato – do Observatório Astronômico da Paraíba, com seu telescópio de 200 mm X 1800 mm de distância focal, “lentes encomendadas a Valentim Bardus, responsável pelas dos mais importantes aparelhos em operação no Brasil, na época”.
    - É o professor Rubens de Azevedo? – perguntei ao cavalheiro que vi, ali, vasculhando o céu.

    E foi ele que me explicou que a cabeça da constelação de Touro é formada pelas sete estrelas das Plêiades – ninfas das águas ( daí o poço ) – sendo a principal, Plêion – o nome que Séfora (“O sacerdote de Midiã tinha sete filhas que vieram tirar água” ) o nome que Séfora tem no texto massorético. Os pelos de meus braços, nesse momento, se eriçaram. O Portal da Virgem comprovando que, segundo o grande Auden, “they were never wrong, / the Old Masters”, ( jamais estiveram errados, / os Velhos Mestres ).

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