Antes de concluir a leitura, já me senti tonto. Parece um livreco de 80 páginas, mas é um pequeno ATLAS do Mundo.
Eu já havia escrito na apresentação do catálogo O CLAUSTRO (de Flávio Tavares) que Solha é um vitruviano, o homem de Vitrúvio, o homem dos sete instrumentos. Entende de tudo: Filosofia, Literatura, História, Mitologia, Teatro, Cinema... tem uma erudição extrema. Difícil de assimilá-lo numa primeira mirada.
Eu já havia escrito na apresentação do catálogo O CLAUSTRO (de Flávio Tavares) que Solha é um vitruviano, o homem de Vitrúvio, o homem dos sete instrumentos. Entende de tudo: Filosofia, Literatura, História, Mitologia, Teatro, Cinema... tem uma erudição extrema. Difícil de assimilá-lo numa primeira mirada.
Talvez eu esteja exaurido com o excesso de tarefas escolares em modo remoto. Assim não conseguirei ler tudo hoje. Não é um livro para se ler apressadamente. É para ser degustado, devagarinho, como um bom vinho.
Sua prosa poética tem sonoridade; é preciso afinar o ouvido para uma boa escuta. E também é necessário se livrar dos vícios da academia para apreender o ritmo e o sentido da obra.
Acho que ele inaugura (ou reafirma) um estilo novo de escrita. Resgata a rica substância lítero-filosófica ocidental (sem desprezar o legado oriental) e vai soltando a conta-gotas. Lembrei tanto de Millôr Fernandes, dos Haikai…
Gosto como focaliza também os mitos e símbolos da cultura popular de massa. É um autor ligadíssimo. Tem a estatura de um grande escritor da modernidade, um dramaturgo clássico (eu nem ousaria nomear um; comparar seria arriscado).
Solha tem a postura de um ator shakespeareano, o fôlego de um cantor de ópera, o gesto de um esgrimista. Acho que não temos um outro dessa estirpe entre nós.
Assim, creio não poder escrever sobre esse opúsculo fenomenal agora. O 1/2 que li do 1/6, ou seja 1/3 das laranjas mecânicas, bananas de dinamite me deixaram tonto. Imagino quando terminar... Vertigem boa, como aqueles devaneios, pensamentos voadores durante a siesta. Mas vou querer apresentar para os meus alunos de Comunicação. Preciso compartilhar com eles essa sensação de estar diante de algo extremamente original.
Parece uma arca de Noé carregando entidades, bichos, animais, seres imaginários que vão povoar a nova terra. Um jato de luz em meio à obscuridade de nossa Idade Mídia brasileira, sem eira nem beira, nem gente que queira.
No futuro, então, as novas gerações vão falar de um contador de estórias, que veio lá das bandas de S.Paulo, instalou-se na Paraíba, e na época da pandemia contribuiu para fertilizar a "terra devastada".
Contribuiu para o novo renascimento, a fundação de uma nova prosa, uma comunicação poética sobrevivente, para além do tempo da ira e das formas do ódio.