Sou do tipo que entende que as boas coisas da vida devem ser compartilhadas. E as coisas ruins, esquecidas ou denunciadas. Por isso é que estou aqui neste momento pensando em dividir com vocês a boa experiência que tivemos a oportunidade de vivenciar, recentemente.
Cassius e Gerlane, a partir de sua competente agência, tornaram possível uma das melhores viagens que nós já fizemos: uma visita ao Vale dos Vinhedos. Pois é lá que se encontra a vinícola Casa Valduga, dentro da qual ficamos hospedados.
Partindo para a Casa Valduga nós nos associamos a um seleto grupo, composto, além de Bia e Gilvan e Gerlane e Cassius, por Lúcia e Ernesto, Eliane e Fausto, e Ana Maria e Marcos.
Em outros endereços estão a vinícola Ponto Nero, a Importadora Domno, a Casa de Madeira e o Jardim Leopoldina, todos pertencentes à empresa Casa Valduga.
Esta impressiona pelo tamanho e a diversidade e a qualidade dos produtos, e pelo contraste com a simplicidade de seus proprietários, os irmãos João e Juarez Valduga, hoje auxiliados pela nova geração Valduga.
O complexo empresarial é composto por um batalhão de mais de dez mil empregados, entre empregos diretos e indiretos. Seus investimentos movem a economia da região, pois aproveitam os diversos materiais encontrados nos arredores, como a pedra dos revestimentos, a madeira, cerâmica e produtos químicos.
Contratam na região jovens nativos, além de serviços de marcenaria, lanternagem, olaria, gesseiros, eletricistas, contadores, pintura dos prédios, graniteiros, e toda a sorte de profissional. Aquilo que não plantam eles compram dos produtores locais.
O conjunto arquitetônico que é sede da Casa Valduga é composto por ampla e confortável recepção, com vistas para um belo castelo onde se situa a loja principal, o Varejo, onde são iniciadas as visitações e os cursos de enologia. Por um edifício imenso, onde são produzidas as diversas marcas de vinhos e de espumantes. E por um moderno edifício, que abriga a administração da empresa.
Além de tudo é dotado de confortáveis unidades destinadas à gastronomia: o imponente Bar Lui, onde além de bons vinhos podem-se encontrar doces bastante “salgados”. E também o restaurante Maria Valduga e o aconchegante Café da Manhã. Quatro pousadas, dotadas de suítes confortabilíssimas, compõem o conjunto.
De sobremesa, um surpreendente sagu ao vinho com creme, e uma saborosíssima pannacotta com calda de frutas vermelhas! O espumante Sur Lie (Casa Valduga, claro) foi patrocinado pelo nosso primo Gilvan Pires, maior representante do produto Casa Valduga no Distrito Federal.
Na vinícola é possível acompanhar o processo de produção, desde a chegada da uva até o despacho do vinho para ser comercializado. No subterrâneo encontra-se a cave, contendo milhares de barris e milhões de garrafas. Lá existem barris confeccionados no exterior, com preços de até 100 mil reais!
O nosso curso foi ministrado pelo jovem sommelier Eduardo Siéga, que revelou profundos conhecimentos e cultura de enologia, associados a um comportamento extrovertido que o torna muito mais comunicativo e facilita o aprendizado dos alunos. Demonstrou, portanto, ser um excelente mestre. Fez-nos percorrer a imensa cave subterrânea, repleta de milhares de barris, muito fria e escura, onde o silêncio só é quebrado pelo som baixo e grave de cantos gregorianos.
Ele nos explicou que o espumante desta vinícola é produzido pelo método champennoise, onde o licor de tiragem (composto de leveduras e açúcar) é adicionado ao vinho base, na primeira fermentação, e derramado em garrafas para obter a segunda fermentação.
Depois desta longa visita nós fomos levados por Eduardo para um moderno salão, com generosa vista para os vinhedos, as araucárias e os ciprestes. E onde uma longa mesa nos esperava para cumprirmos a melhor parte do curso: a degustação.
Essa primeira parte do curso terminou numa divertida e saborosa degustação, onde bebemos seis marcas de vinhos e espumantes. Começamos pelo Ponto Nero brut, seguido de um gerwürztraminer seco pacas, delicioso chardonnay, um syrah muito seco, um surpreendente marselan, muito pouco conhecido aqui no nordeste, finalizando com o velho cabernet sauvignon.
Lá ele ensinou como avaliar um vinho pelo método dos cinco sentidos: segurar corretamente a taça. Ver a coloração, estimando a idade. Sentir o aroma que exala. Ouvir o pipocar da rolha do espumante. E sentir o sabor característico da uva escolhida, estimando o grau de acidez, o tipo de madeira onde foi amadurecido, o grau de doçura, ou de ausência desta.
Utilizando esse método, ao longo do curso íamos aprendendo a identificar a uva que estávamos provando. Para analisar a coloração, por exemplo, Eduardo nos ensinou a curvar cuidadosamente a taça e por o dedo embaixo, distinguindo as diversas matizes de coloração. Depois de tudo bebíamos o conteúdo da taça e passávamos para outra garrafa.
Durante a degustação aconteceu uma coisa esquisita: depois da quarta garrafa notei que colocava um dedo, mas via dois. Estranho. Será que era algum fenômeno físico tipo refração da luz através do cristal da taça? Ou terá sido porque eu já havia tomado quatro ou cinco taças? Um mistério...
Fechando o conjunto, o confortável hotel onde é possível praticar todo o enoturismo aqui descrito. Quando o tempo permite pode-se praticar o balonismo.
Distribuídas pelas fontes e alamedas dos jardins encontramos centenas de estátuas gregas, com motivos relacionados ao vinho. Disputando com os quero-quero o carinho dos hóspedes, o charme fica por conta a gatinha Mima, que faz o maior sucesso com os gatos da região. Junto com um outro lindo gatinho, branco, circulam pela vinícola.
Após a visitação da cave, participamos de outra deliciosa degustação de espumantes, começando pela uva cabernet franc, seguida de gewürztraminer, outro chardonnay brut, e a pouco conhecida uva glera, do Veneto e Friuli. A PontoNero produz também o espumante enlatado da marca Becas, nos sabores join blanc, fun rose e sweet moscato.
Dali fomos visitar a Cervejaria Leopoldina, onde são produzidas as cervejas Porter, Red Ale, IPA, APA, Bohemian Pilsner, Weissbier e Witbier, esta com limão siciliano e (pasmem!) coentro! E produz também as cervejas fortes Stout, Belgian Tripel, e a curiosa e deliciosa Italian, uma cerveja forte clara misturada com vinho chardonnay! Mas o destaque ficou por último: as premiadas Belgian Quadrupel e Old Strong Ale. Tomamos todas.
A visita não poderia ter sido completa, se não tivéssemos conhecido o Jardim Leopoldina, onde concluímos a tarde. E o nosso passeio pelo Vale dos Vinhedos.
Ao final de todas as degustações que participamos recebemos as lindas taças que havíamos utilizado. Porém, nenhum convite para conhecer o AA local...
A seleção é de elevado gosto musical. Ouvimos músicas nos mais diversos estilos e ritmos: roques nacionais pouco conhecidos, como Mais Ninguém , da Banda do Mar; Odoyá , de Gabriel Conti; Contos de Fraldas , do Tia Nastácia. Gostosas e pouco divulgadas bossas novas, como Back to Black , com Eve St. Jones, e More Than I Can Bear , do Matt Bianco.
Também músicas já consagradas, como o reggae Querem Meu Sangue , do Cidade Negra; Pretty Woman , de Roy Orbinson; The Lady in Red , de Chris Burg; Please, Don’t Go , por DJ Leão, além de um surpreendentemente bom e ritmado How Deep Is Your Love , pelo Bellestar; Stupid Girl , do Garbage, e a espetacular Why Me? , do engraçadíssimo Big Bad Voodoo Daddy. Incrível!
Fica a vontade de um dia retornarmos a essa região, o Vale dos Vinhedos, onde é inevitável se ter a sensação de que havíamos visitado a Toscana, com seus vinhedos e ciprestes, além de um friozinho gostoso à noite.