A noite cai como uma lâmina fria para os tipos esquecidos. A máquina de produzir sonhos agora tem a função decorativa, não é mais ser vivo, pulsante, que firma opinião, gera documento, contribui, conta e marca a história. Os tipos esquecidos se perdem no tempo, nos espaços. A caixa onde eram zelosamente armazenados está vazia, corroída pela ferrugem. Seu próprio coração esvaziou. Dali já não sai mais a soma da transformação das letras em palavra, frases, parágrafos, páginas.
São tipos esquecidos em cantos do mundo, feito seres zumbis pelas esquinas, becos, recantos escuros e obscuros. Indivíduos transformados em sombras, escondendo as próprias individualidades, desarticulados coletivos. São bêbados em alma cambaleante a esperar o ponto final, tipografia amorfa.
O esquecimento de vários tipos é condenação terrível. Retira-os do palco e atira-os numa espécie de calabouço sem ideias. Antes fossem levados ao cadafalso, para uma execução visível, com plateia, grandiosa. Mas não, empurram para o silêncio, o sumiço, a falta de impressão, o apagamento.
Melhor seria que certos tipos esquecidos se tornassem páginas, volumes, que seguissem a história e fossem observados até o ponto final.
Tipos esquecidos são seres de ferro que vestem armadura preta e que eram manusea👇🏽👇🏽👇🏽 por escribas poéticos. Hoje silenciados pela modernidade, vozes de chumbo caídas fora da superfície das páginas.
Mas existem tipos esquecidos que também encantam. Muitas vezes são pedras preciosas que necessitam ser jogadas à luz, lapidadas. É fogo amansado que pode reavivar, incendiar e alumiar olhos e corações. Sonhadores e encantadores de sentidos, tesouros.