No dia 10 de novembro de 1891, o mundo da poesia ficou mais triste. Aos trinta e sete anos, Arthur Rimbaud encerrou sua temporada de poeta, iniciando no Paraíso celestial uma nova estação de sonhos e poesia. No óbito foi identificado como negociante e o diagnóstico – carcinose generalizada.
Triste sina de poetas que nem na morte como tal são identificados. As vezes na lápide se faz constar com esse nome. Nem sempre! Mas de Rimbaud ficou a imagem de um poeta genial, construtor de uma poesia irrefutável. Poesia que sempre será reconhecida, e novas gerações vão lembrar dele pela sua dimensão de qualidade inquestionável.
Meu primeiro contato com Rimbaud se deu em maio de 1982, quando li, numa tradução de Lêdo Ivo, o livro “Uma temporada no Inferno e Iluminações”, em edição Clássicos Francisco Alves. Terminada a leitura, sobre meu espírito construiu-se paisagem como um arco-íris à semelhança dos que avistava no tempo de criança sobre o céu de Serraria, que desejava desvendar seus mistérios e até chegar perto para observar sua cor.
Ficou em mim a impressão de um poeta prodígio. Realmente, o jovem Rimbaud no colégio, cedo, revelou-se um adolescente inquieto e com inteligência excepcional, e tempos depois galgou os degraus da conclusiva poesia que bem alimenta a alma.
Na sua juventude, na Paris cosmopolita, seu comportamento ganhou incitantes momentos na boemia, na embriaguez excessiva e a perversão sexual conduziam o comportamento dele, que buscava aventuras.
No ambiente parisiense em que os cafés e saraus estavam na moda, o jovem poeta expandiu a fecunda veia poética, e criou uma poesia vital ao conhecimento da alma.
Da leitura da poesia de Rimbaud erradia uma constelação de luzes que mesmo vista a partir de apertada janela, dela se recolhe um conjunto de emoções a cada poema lido, de estágios que edificam em nós encantadora paisagem, porque sua poesia sibilante revela alguns mistérios da alma que ele cultivou como um tesouro em terra fértil.
Henri Fantin-Latour Não há um poeta, principalmente os poetas genuínos, que não se aproprie de imagens alheias, de imitações, do uso de paráfrases, mesmo na incessante busca de ser original no mundo das letras. O fabuloso Arthur Rimbaud não escapou de mergulhar no mar de Victor Hugo, Baudelaire, Saint-Simon, Rousseau e Chateaubriand, enfim, o que de melhor se produzia mundo afora e, de modo particular, na França, para arrancar tesouros, que nitidamente influenciaram os jovens poetas de sua geração, como fazem ainda hoje.
Sua gloria literária seria consolidada depois de passar o pórtico da existência póstuma, seguindo um roteiro que cativa adeptos ainda hoje.
Para conhecer Rimbaud, fiquei com a tradução de Lêdo Ivo de “Uma Temporada no Inverno” e “Iluminações”, e seu estudo-biográfico do poeta de Alagoas que, quando da publicação deste livro em 1981, deu uma noção do trabalho deste poeta místico, irrequieto, solitário que me agarrou para caminhar pelas veredas da sua poesia e de outros que sabem construir emoção a partir do que escreveram.
Para lembrar os 130 anos da passagem de Rimbaud, nada melhor do que retornar à leitura de sua obra, no mesmo livro que há 40 anos trouxe-me incontidas emoções. A edição, em tradução de Lêdo Ivo, que tenho comigo como uma relíquia porque foi o primeiro contato com este poeta que a França produziu, agora renovou o desejo de buscar novos caminhos da poesia que em suas peculiaridades atinge as diferentes existências da vida.