Até hoje, muito já se especulou sobre o grande pai da literatura ocidental. Era cego? Foi uma mulher? Era uma única pessoa ou várias? Pouca coisa se sabe a respeito do grego Homero, produto de uma longa tradição de poesia oral, fundador da poesia épica e, para muitos, da própria literatura ocidental, que nos deixou duas obras imortais: A Ilíada e A Odisseia. Esta última é um soberbo poema épico que se passa depois da queda de Troia (Ílion)
e narra o longo retorno (dez anos) do herói Odisseu (Ulisses, na versão latina) para casa, até reencontrar sua resiliente esposa Penélope.
Mas o que nos interessa aqui é A Ilíada (século VIII a.C.), outro extraordinário, comovente e perturbador poema épico de 15 mil versos ambientado durante o décimo e último ano do mítico, humano e sangrento conflito da Guerra de Troia – o gênio Homero nos lança no meio da ação (in media res – no meio da coisa, como descrito pelo poeta romano Horácio). Após a esposa (Helena) do rei Menelau, de Esparta, ser raptada pelo príncipe Páris, filho do rei Príamo, de Troia, iniciam-se os conflitos entre as duas civilizações, transformando a Grécia, posteriormente, em uma das grandes civilizações da história da humanidade.
Obra vastíssima em cultura, mitologia, experiência humana e relatos bélicos, além de ponto de discussão de valores éticos e morais, A Ilíada foi um dos primeiros alicerces para a construção da mentalidade do homem moderno ocidental, ao lado da filosofia grega e da tradição religiosa judaico-cristã. Destaque para a contrastante rivalidade entre o consciente, leal e prudente príncipe troiano Heitor e o imprevisível, colérico e individualista guerreiro grego Aquiles.
Recomendo a leitura da tradução brasileira de Frederico Lourenço. Por ser um poema por demais extenso e com muitos personagens, também sugiro a leitura antecipada de alguma introdução ou resumo da narrativa, ou até mesmo de um bom livro de mitologia grega, para servir como guia. Muitas adaptações da obra já foram feitas pelo cinema, mas indico o filme Troia (2004), do diretor e roteirista alemão Wolfgang Petersen.
Ler, por fim, os versos de Homero é olhar-se no espelho. Pouquíssimas vezes o gênero humano foi tão bem retratado. Faz-se ecoar a certeza de que os guerreiros e as civilizações passam, mas a cultura fica.