Uma pessoa me aborda na calçadinha da orla com uma conversa que me causou surpresa. Ela diz que fui o primeiro comunicador a fazer debate político no rádio, em João Pessoa. Sinceramente, não tenho nenhum registro desse fato na memória. Otinaldo Lourenço, memória viva do rádio, recentemente falecido, poderia esclarecer melhor o assunto. Penso que de tão óbvio, debate político é uma coisa que deve ter surgido no rádio naturalmente, não é criação de agora. O que posso dizer é que mediei um debate no rádio, numa época em que não existia emissora de TV em João Pessoa. A capital só tinha três emissoras de ondas médias e duas de frequência modulada.
Vou tentar puxar pela memória: A direção da rádio em que eu trabalhava, Arapuan AM, me confiou a organização e apresentação de um debate político, com a recomendação de que o evento fosse um espetáculo bem organizado, capaz de promover mais ainda a emissora, que já gozava de enorme prestígio na cidade. O debate seria realizado na boate do Hotel Tropicana, na rua das Trincheiras, com a presença de convidados especiais.
Se não me falha a memória, o debate se deu nas eleições municipais de 1985, quando os prefeitos das capitais voltaram a ser eleitos pelo voto direto, e não mais escolhidos pelo governador do Estado. Acho que foi em novembro, pouco antes do dia 15, data das eleições. Os candidatos eram Carneiro Arnaud (PMDB), que acabou sendo eleito; Marcus Odilon (PTB) e Carlos Gláucio, concorrendo pelo PL do deputado Álvaro Valle. Estavam ainda no páreo Wanderley Caixe, pelo PT, Josélio Paulo Neto, pelo PDT de Brizola, e um candidato nanico, se não me falha a memória, Damião Galdino (não lembro o partido que representava), que curiosamente acabou superando em votos o empresário do ramo de farmácia, Josélio Paulo Neto.
A Lei eleitoral não previa nem proibia esse tipo de evento. Coube aos organizadores apenas comunicar ao TRE a realização do programa, assegurando a participação igualitária, equilibrada, dos candidatos, com a presença de um observador da Justiça Eleitoral. Como não havia modelo a ser seguido, tivemos que queimar as pestanas na elaboração das regras do debate, que foram aprovadas pelos representantes das coligações.
Tudo checado, tudo pronto. Aí veio a bomba: faltando alguns minutos para o debate ir ao ar, Marcus Odilon, que polarizava a campanha com Carneiro Arnaud, cancela sua participação. Na época especulou-se que a decisão foi tomada por ”sugestão” da emissora concorrente, o que até hoje não ficou provado. Comuniquei o fato aos demais candidatos e todos concordaram em fazer o debate sem Marcus Odilon.
Penso que quem faturou alto com o evento foi Carlos Gláucio. Sereno, com mais desenvoltura ao microfone e sangue novo na política local, Carlos Gláucio deve ter conquistado muitos votos por conta da sua participação no debate da Arapuan. Calouro em política, Gláucio ficou em 3º lugar naquela eleição.
A verdade é que, modéstia à parte, fizemos o debate em alto estilo e a repercussão foi a melhor possível. Não posso dizer que a ausência de Marcus Odilon tenha contribuído para sua derrota nas urnas, mas acho que a “fuga” do candidato, na undécima hora, causou algum dano eleitoral ao homem que prometia “acabar com os ratos” na política da Paraíba.
Nosso cochilo foi no quesito segurança. Não pensamos em segurança, talvez porque naquela época a cidade ainda fosse pacata. Sem segurança, o evento registrou um acontecimento hilariante, que obviamente não estava no ‘script’: encerrado o debate, militantes que ouviam seus candidatos nas ruas próximas ao hotel em caixas de som estrategicamente colocadas, largaram faixas e bandeirolas e invadiram o Tropicana, mergulhando na piscina do hotel, para desespero de alguns hóspedes e do irascível proprietário, Antônio Cabral, que ameaçou chamar a polícia. Com certa dificuldade, fiz ver a Toinho Cabral que tudo aquilo era uma festa e não havia nenhum mal que a galera relaxasse na piscina do hotel, pelo menos uma vez na vida.
Bem, no primeiro debate político que apresentei, a festa da democracia foi completa, um autêntico “happening”. Os candidatos saíram satisfeitos, e, mais satisfeitos ainda, suponho, ficaram os militantes que curtiram adoidados a piscina do Tropicana. Se fui pioneiro nessa história, sinceramente, não sei. Sei que dei boas gargalhadas com a piscina do Hotel Tropicana transformada numa espécie de piscinão de Ramos.