Detesto o barulho, todas as formas de barulho, inclusive o onipresente ruído dos equipamentos eletrônicos. Não uso smartphone, ainda converso pelo telefone fixo. Smartphone é para quem quer e precisa ser localizado rapidamente ou para quem quer ser o primeiro a saber das coisas. Não é mais o meu caso.
Vivo sem a ajuda de aplicativos. Pix, nem pensar, muito menos o popularíssimo caixa eletrônico. Usando sempre dinheiro em espécie, dispenso cartão de débito e crédito. O que não dispenso mesmo é um bom papo com o caixa do banco que me atende uma vez por mês. Sem carro próprio, me locomovo a pé, de ônibus ou, na urgência, de táxi.
Teclando num velho computador de mesa, minha única janela para o mundo é o Facebook, que me faz não ter inveja do WhatsApp, Instagram e outras redes sociais. Não estou no mercado nem pretendo ser “influenciador digital”, levo uma vida sem “lives”. Tudo meu é presencial, nada remoto.
Ainda empolgado com a linha do horizonte e o céu, detesto a luz elétrica, que me desvia das estrelas. Assim, totalmente defasado, desaparelhado, me vi obrigado a dar adeus às viagens de longo curso, um dos prazeres da juventude.
Em resumo: não existo mais aqui na Terra. Estimo poder continuar como um E. T. por mais uns cinco ou seis anos, quando, para usar a expressão de um amigo, “resolverei ir às aventuras no paraíso, onde o sonho é real”.
Somos hoje uma multidão de senhas, sem rosto, sem distinção, sem sentimento, sendo identificados por códigos e máquinas, vigiados por drones, chips, celulares e câmeras de reconhecimento facial, e, o que é pior, todos dentro de uma (des)ordem política, social e econômica extremamente agressiva aos seres vivos.
Sim, somos, literalmente, cifras e dados, mercado consumidor. Não somos mais gente. Deixamos de ser.
Contra tudo isso, dou meu grito solitário: Fui.