O ser humano tem dificuldade de pensar ou agir por conta própria. Necessita de quem o oriente, sugira um roteiro seguro nos descaminhos da vida. Essa característica da nossa espécie é que propicia o aparecimento de orientadores espirituais ou guias de comportamento.
Não falta quem se aproveite do nosso natural desamparo para nos vender fórmulas ou manuais de conduta, nos quais estaria a chave para a conquista da felicidade. Só que esse caminho não existe fora de nós; deve ser construído por cada um. Nenhum guru conhece das pessoas o que elas intimamente são, por isso não pode apontar a ninguém o caminho que as faça felizes.
f Geralmente os que se dispõem a isso cobram bem pelos conselhos – o que é compreensível; ninguém, afinal, valoriza o que lhe é dado de graça. O problema é que eles ganham por vender aos outros ilusões. Pode-se alegar que muitos preferem mesmo se iludir a enfrentar a dura crueza da vida. Querem que lhes ditem os caminhos, livrando-os da difícil tarefa de fazer escolhas. Há nisso, porém, um grande risco; o medo de se perder pode acabar deixando-os na dependência de algum perdido.
O mundo digital fez aparecer uma nova modalidade de guru – o “influencer” (grafado em inglês para dar mais prestígio). Que vem a ser ele (ou ela)? Como o nome diz, é uma pessoa que se propõe a nos influenciar em algum domínio do saber ou do comportamento. Também (ou sobretudo) pretende nos orientar quanto às escolhas de consumo – o que comprar, de que marca, quando enjoar de um produto e partir para outro. O “influencer” se aparelha para nos ditar o que devemos fazer (e como) a fim de adquirir habilidade em determinado setor e conquistar o almejado sucesso.
“Sucesso” é uma palavra-chave no vocabulário deles. Não bem-estar, ou felicidade, mas esse termo que bem resume os anseios de quem vive numa sociedade competitiva e marcada por signos de ostentação como a nossa. O sucesso é um emblema exterior; dimensiona-se mais pelo que o indivíduo aparenta do que pelo que ele é. A internet, se não criou, multiplicou o número de indivíduos com essa função. Há “influencers” para todos os gostos (e desgostos). Eles querem sentir por nós, mostrar que a insatisfação com a qual levamos a vida decorre de não termos despertado para as atitudes corretas a tomar – atitudes essas que só eles conhecem.
Não descarto a possibilidade de que haja entre pessoas dessa estirpe as bem-intencionados. As que se comprometem com uma causa, mesmo sendo ela a do enfadonho politicamente correto. Mas fico com o pé atrás. Não suporto a ideia de que tirem do homem a maior riqueza que ele tem – a de pensar por si mesmo.