FECHADA PARA O MUNDO
Havia esse ritual De pôr a mesa Na esperança de Congregarmos o pão. Mas a mãe não Sentava à mesa Porque não sabia Segurar os talheres Comia com a boca Aberta E se fechava Para o mundo.
Havia esse ritual De pôr a mesa Na esperança de Congregarmos o pão. Mas a mãe não Sentava à mesa Porque não sabia Segurar os talheres Comia com a boca Aberta E se fechava Para o mundo.
ENGENHO DE VENTO
O amor só funciona No desligamento do tempo. No museu em que A fragilidade dos laços Nos exalta E nos convoca A construir paredes de papel. Mas tudo isso se desfaz no vento E tento não vacilar, Mesmo sabendo Que nenhuma boca Se abrirá apenas A um beijo.
O amor só funciona No desligamento do tempo. No museu em que A fragilidade dos laços Nos exalta E nos convoca A construir paredes de papel. Mas tudo isso se desfaz no vento E tento não vacilar, Mesmo sabendo Que nenhuma boca Se abrirá apenas A um beijo.
ANJO DO MUNDO
Um anjo epifânico Goteja seu sêmen na alma Que germina como pano branco. Meu primeiro contato Foi com a morte. Com sorte, o corte fendeu e pude ter o frenesi da cicatrização com todo o corpo frio em lâmina. Ornado de rosas roxas, comendo lírios para exalar lirismo. Sou um anjo, mas as minhas asas crescem para dentro. Um Deus de quase nada Um Deus que quase afoga É o Deus que’u afago Ao modo de criança Descobrindo o choro do pai.
Um anjo epifânico Goteja seu sêmen na alma Que germina como pano branco. Meu primeiro contato Foi com a morte. Com sorte, o corte fendeu e pude ter o frenesi da cicatrização com todo o corpo frio em lâmina. Ornado de rosas roxas, comendo lírios para exalar lirismo. Sou um anjo, mas as minhas asas crescem para dentro. Um Deus de quase nada Um Deus que quase afoga É o Deus que’u afago Ao modo de criança Descobrindo o choro do pai.
O POETA É UMA ILHA
O poeta é uma ilha Naufragando em si mesmo, Constrói sua trilha no verso Avesso a atalhos e afeito Aos obstáculos da palavra. O poeta se sabota agora enxerga sua poesia Como uma maldição que o desnorteia. Melhor ser insensível? Ninguém está imune ao mundo, Mas o poeta é um contagiado, Alguém que potencializa a dor Para compor seus dramas. Por trás da pele das palavras Há um tecido chamado esperança. Por um fio, o poeta não morre.
O poeta é uma ilha Naufragando em si mesmo, Constrói sua trilha no verso Avesso a atalhos e afeito Aos obstáculos da palavra. O poeta se sabota agora enxerga sua poesia Como uma maldição que o desnorteia. Melhor ser insensível? Ninguém está imune ao mundo, Mas o poeta é um contagiado, Alguém que potencializa a dor Para compor seus dramas. Por trás da pele das palavras Há um tecido chamado esperança. Por um fio, o poeta não morre.
DE AMANTES
Amar é inventar o outro E, se nesse inventar eu me perdi, É porque procurei atalhos. Talhei cascalhos como se fossem diamantes E, por covardia, rejeitei diamantes Por considerá-los cascalhos. Não há pedra mais bruta que o medo. No meu mapa interior Só há desertos mas isso não me torna Infertil. Existem muitos segredos nos solos. Não careço de amor. O tempo é a trava. E a armadura não repara As cicatrizes. Amar é se autenticar Para ser o autêntico outro.
Amar é inventar o outro E, se nesse inventar eu me perdi, É porque procurei atalhos. Talhei cascalhos como se fossem diamantes E, por covardia, rejeitei diamantes Por considerá-los cascalhos. Não há pedra mais bruta que o medo. No meu mapa interior Só há desertos mas isso não me torna Infertil. Existem muitos segredos nos solos. Não careço de amor. O tempo é a trava. E a armadura não repara As cicatrizes. Amar é se autenticar Para ser o autêntico outro.