Dez páginas, apenas e tão somente dez páginas em corpo 10 dos velhos magazines de linotipo!... E que páginas!
Há prefácios assim. Esse de meus frequentes retornos é assinado pelo professor José Pedro Nicodemos à edição feita para publicar pela Universidade Federal da Paraíba, através de sua editora, sob recomendação de um conselho editorial dirigido por Francisco Pontes da Silva.
Há prefácios assim. Esse de meus frequentes retornos é assinado pelo professor José Pedro Nicodemos à edição feita para publicar pela Universidade Federal da Paraíba, através de sua editora, sob recomendação de um conselho editorial dirigido por Francisco Pontes da Silva.
Leitor, de ordinário, preguiçoso, salvo quando a leitura não depende de mim, mas de seu próprio fascínio, tenho ficado muitas vezes no prefácio. Às vezes, não raro, sem me queixar do que foi deixado mais adiante.
Não é o caso da pequena obra prima a que aludo, posterior às das minhas recorrências de leitor curioso à edição príncipe das "Datas e Notas" de Irineu Pinto. Livro de 1908, cedido por José Leal à biblioteca da Associação de Imprensa enquanto durou a sua presidência.
Um parênteses, não posso omitir: derrotado pelos novos de maioria esquerdista a que eu pertencia, chocado, sentindo-se traído pelo que eu lhe devia, apurado o pleito, quando o vi descer as escadas que ele construíra, acudiu-me a lembrança de ir a sua casa restituir o livro que o acompanhava onde mais demorasse. A API era a sua segunda morada. Eu não tinha certeza de ser recebido, mas pressenti ser esta a minha obrigação, já que não podia devolver os favores recebidos nos dias de iniciação.
Bati palmas, veio D. Ester, que me recebeu de rosto bondoso como sempre, e o resultado é que o livro propiciou-me a graça do perdão.
Mas corramos ao prefácio que reli há pouco, a cada frase, a cada palavra ressurgindo não só o estilo mas, sobretudo, o homem castiço que conheci em professor Nicodemos. Não fomos próximos de amizade, mas muito de admiração. Repórter nos anos de Pedro Gondim, que trouxera para o governo, além de Serraria e adjacência como o general Edson Ramalho, mas alguma prática de ideias novas, sem manietar-se aos remanescentes de 1930 até ali presentes em todas as gestões. E entre os novos, os "estranhos", o secretário de Educação Pedro Nicodemos. Discreto como figura, sem discurso eloquente, foi coberto, inteiramente coberto pela educação que soube ministrar e difundir. Lembro-me da vez em que fui cobrir uma visita do governo inteiro a uma escola de Alagoa Grande. Estavam lá Pedro, o secretário e uma fila de carros pretos de auxiliares. Pedro, que era eloquente, mal falou, o que se ouviu foi um coro de professoras e alunos a manifestar a consciência da educação que desejam e da qual dependiam em meio à pobreza sua e do lugar."Nos dê alguma coisa em que plantemos, já que a terra nunca mudará de plantio e de dono!" Enquanto não chegava o fôlego a Pedro, Nicodemos interveio: "Bendita hora esta em que nos confiais a lição." Sereno, sem se mostrar, o secretário não escondia a sua felicidade". Não era de direita nem de esquerda. Era Professor, fosse no cargo, na sala de aula ou introduzindo o leitor virgem ou culto numa obra que nenhum paraibano de leitura possa desconhecer.
Há outra página sua que muda tudo o que li e ouvi sobre os "voluntários da pátria" à guerra do Paraguai: eram negros esses vo luntários. Negros que Lima Barreto descreve sem nenhum voluntarismo, garroteados e embarcados para dar nome e glória aos vence dores brancos de uma guerra extremamente desigual.
Numa hora em que dobram a esquina final os amigos do afeto, vem a estante com essas lições de vida.