Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam bem.
O azul foi se tornando cinza e algumas pessoas outrora queridas perderam o encanto e a sutileza em ser grácil, mas nunca simplório, que o tocava e promovia o bem ampliando e prometendo vida.
A princípio pensava ser passageiro, como um desconforto útil, quem sabe um sinal, ou uma promessa de crescimento interior. Mas os dias, as semanas e os meses foram alongando este descompasso entre o passado e o presente parecendo negar a presunção de um futuro restaurador.
Procurou razões, observou-se com maior frequência e tentou mudanças racionais flutuando entre o vazio e uma mágoa imprecisa consigo mesmo. Procurou ajuda e sentia pressa em resultados, sem obtê-los.
O passado insistia em não voltar, como se lavasse as mãos ao presente, tal qual a sombra da copa de uma árvore que se estreitava indiferente a sua ação protetora. A luz o incomodava com sua enorme carga de realidade.
Resignou-se, foi vencido. No domingo, levantou-se cedo fez a barba, buscando um outro rosto e permaneceu em jejum, não sentia fome. Vestiu-se bem, girou o corpo por duas vezes na sala, registrou com detalhes o percebido, abriu a porta que o levava ao jardim e desprovido de esperança e com as mãos vazias se foi. Não acreditava mais na sua importância em ninguém.
Seguiu o caminho irregular das calçadas, sem olhar para trás.