Poucas coisas são mais irritantes que estar preso num grande engarrafamento, mas pode ser muito pior se o tempo de viagem estiver rigor...

Que vexame!

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Poucas coisas são mais irritantes que estar preso num grande engarrafamento, mas pode ser muito pior se o tempo de viagem estiver rigorosamente atrelado ao tempo do trânsito intestinal, que, ao contrário do primeiro, não está nem um pouco engarrafado.

Sexta feira, 18h45, velocidade da via: um quilômetro por hora. E eu ali, totalmente cercado por carros, caminhões, buzinas, fumaças e roncos de motores.

Desespero!

Olhei para a pista central e vi um carro competindo comigo, era uma camionete gigante, daquelas inversamente proporcionais ao tamanho do bilau do dono. O carro andava 10 metros e eu andava 10 metros, ele andava mais um pouco, e eu o acompanhava.
Logo nos vimos numa acirrada disputa. Eu olhava de lado e via o "adversário" preparado, com as duas mãos no volante, cara no vidro e quase subindo no carro da frente. Assim foi, carro a carro, metro a metro, até que minha fila passou de 1 km/ hora para 1,1km/ hora. Foi uma alegria ver aquela camionetona, ficando para trás. Vitória, vitória! Estava me sentindo o Ayrton Senna no pódio e tomando champanhe.

Por alguns minutos a competição desviou minha atenção, mas os movimentos peristálticos me avisaram que algo urgente estava para acontecer e que ao invés de pódio eu precisava era de banheiro. Havia uma revolução em curso na minha barriga. Lembrei da coxinha com maionese que comi na lanchonete em frente ao hospital, (desobedecendo os sábios conselhos da minha mãe sobre coxinhas e maionese). Percebi logo que a coxinha lutava bravamente contra o suco gástrico, passou rápido pelo estômago e já no intestino "reivindicava" liberdade, mas eu trancava. Meu cérebro nervoso mandava mensagem insistente dizendo: isso é golpe, isso é golpe, mas não adiantava! A coxinha e a maionese faziam pressão, soltavam bombas de efeito moral e gases de pimenta.

A situação era desesperadora, eu ali rodeado por carros, num trânsito sem saída, a barriga acelerava e o carro igual uma tartaruga.

De repente, vejo uma placa de posto de gasolina, parecia uma miragem, mas era mesmo um posto a 500 metros. Aquele letreiro amarelo acendeu minhas esperanças e eu tranquei mais uma vez. Vai dar tempo, vai dar tempo, repetia mentalmente como um mantra. Foram os mais longos 20 minutos da minha vida, até que o carro embicou naquele posto. O frentista chegou para me atender, mas eu já tinha saído do carro andando rápido com passo curto, pernas fechadas e perguntando pelo banheiro. O cara só apontou para uma portinha feia e eu já estava lá.

O banheiro era chique demais. Perfeito! Tinha um vaso sem tampa, uma porta vazada embaixo que deixava à mostra a canela e a calça arriada. Um papel higiênico cinza escuro, bem áspero, daqueles de antigamente, solto em cima da descarga. Que luxo, pensei!

Tudo correu muito bem, nem dei tchau pra coxinha e saí leve e feliz.

Agradeci ao frentista e voltei para o engarrafamento. Liguei o som e pensei: Pra que pressa? A vida é tão boa! Nessa hora, na pista central, a camionetona ia passando a 1 km/ h. Não resisti e emparelhei, olhei pra "bitela" e acelerei.

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