O Star+, mais um serviço de streaming para concorrer com Netflix, HBO Max etc., começou a operar recentemente no Brasil trazendo um bom catálogo de filmes mas, sobretudo, um biscoito fino para fãs dos Beatles: McCartney 3, 2, 1, produção lançada neste ano e que nada mais é do que um ótimo papo entre dois músicos que se mostram, acima de tudo, grandes fãs de música.
O papo dura três horas, dividido em seis episódios, todos já disponíveis no Star+. E por mais que o leitor ache que o assunto “Beatles” está esgotado, este McCartney 3, 2, 1 mostra que não. Talvez seja o aspecto “de boas” da produção: Rick está tão à vontade que veste camiseta, bermuda e está descalço enquanto conversa com Paul em torno de uma mesa profissional de gravação e um piano.
Enquanto masca chiclete, Paul lembra histórias divertidas de bastidor e entrega alguns truques e inspirações para canções famosas, como ‘Michelle’, ‘All my loving’, ‘Lucy in the sky with diamonds’, e ainda alguma coisa da sua fase Wings/solo, vide ‘Band on the run’ e ‘Live and let die’. Na mesa, o produtor isola os instrumentos - como o baixo de Paul em muitas dessas gravações - e provoca o ex-beatle a contar alguns segredos de composição, arranjo e até das harmonizações vocais que os Beatles usaram bastante.
É simples assim. Um bate-papo, longe da formalidade de uma entrevista em plano fechado, em que o entrevistado, sentado numa cadeira, é inquirido a responder uma pauta por vezes óbvia e maçante. Aqui, Paul e Rick parecem velhos amigos numa sala falando sobre a influência de música clássica na sonoridade dos Beatles (notadamente, Bach), Alice no País das Maravilhas, meditação e, claro, relembrando um passado criativo e glorioso.
Por exemplo: enquanto conversam sobre ‘Waterfalls’ (do álbum McCartney II, lançado em 1980), e Rick Rubin diz que acha a melodia ainda muito moderna, Paul confidencia que se arrepende de ter deixado as cordas muito “acanhadas”, ao que o produtor discorda: “Mas acho que é isso que a torna moderna”, comentário que o autor da canção rebate, de pronto: “Posso ter arrependimentos, mas eles não precisam estar certos”.
McCartney 3, 2, 1 é obrigatório para fãs, mas também para músicos. Ao dissecar as partes que compõem a gravação dos Beatles, o documentário é um belo “curso” para quem aspira entrar em um estúdio e ter seu disco gravado. E, quem sabe, integrar o Olimpo do qual Paul McCartney é um deus absoluto.