Toda manifestação homofóbica se resume na falta de amor, de respeito para com o próximo, com a comunidade e com a vida íntima alheia. Respeito que não deve se limitar às relações entre homens e mulheres, mas entre quaisquer indivíduos que desfrutem comunhão afetiva. A harmonia de um relacionamento, de um ambiente familiar transcende a questão de gênero, pois é uma virtude de caráter e de nobreza. Há muitas relações homoafetivas em que existem muito mais dignidade, amor e respeito do que entre casais de sexo oposto.
Muito nos impressionaram as notícias recentemente divulgadas sobre a maneira discriminatória com que o empresário depoente na CPI da Covid se referiu ao senador Fabiano Contarato, bem casado há mais de uma década com o fisioterapeuta Rodrigo Groberio, com quem tem dois filhos. Infelizmente isso ainda acontece, conquanto vivamos uma época em que o preconceito e a discriminação, sob qualquer forma, têm sido rejeitados pela sociedade pensante, com ênfase na mídia nacional e internacional, inclusive no Jornal A União, que dedica amplos espaços de abordagem correta acerca da diversidade humana, com séria rejeição a manifestações de comportamento homofóbico.
A ciência da psique já atestou que não há possibilidade alguma de redirecionamento de perfil sexual através de nenhuma terapia. A tendência para comunhão afetiva entre iguais é visceralmente pessoal, espontânea, e pode variar com as condições, o meio, as emoções e todo um contexto que envolve cada individualidade. Além de ser uma questão puramente pessoal e que não diz respeito a ninguém, as modernas pesquisas científicas apontam para que a tendência à comunhão afetiva entre pessoas do mesmo sexo pode até vir na genética, com a própria vida, ou na formação biológica. Por isso que a OMS a retirou de sua lista de doenças, desvios ou perturbações psíquicas, há algum tempo.
Há meia dúzia de anos, foi espantosa a repercussão positiva em cidades do mundo inteiro por conta da decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos reconhecendo o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Curiosamente, a mesma decisão de nosso Supremo Tribunal Federal, há alguns anos, não teve igual acolhimento da opinião pública, ainda que o nosso país haja se antecipado, estendendo os direitos matrimoniais por unanimidade.
Chico Xavier, eleito em votação nacional como o “Maior brasileiro de todos os séculos”, aborda o assunto de forma sensata e educativa, no livro Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel:
“A homossexualidade, definida no conjunto de suas características por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas. Observada a ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais”.
Como símbolo de uma vida dedicada ao amor fraterno com uma produção de centenas de livros, dos quais nunca se disse autor e não quis receber nem um centavo, tendo doando às causas sociais todos os lucros obtidos, Chico coloca o amor muito acima da identidade de gênero. Afinal, espírito não possui sexo e o sentimento entre eles, que é o que perdura além da vida material, está em outro nível. Jamais deveria incomodar a quem quer que seja.
E prossegue:
“Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender porque razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis a vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. “Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranquilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a benção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus. Até que isso se concretize, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas”.
Chico Xavier conclui brilhantemente, com a dignidade que pautou seu exemplo de amor:
“Dia virá em que a coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos”.
Isso é amor!