Quando visitei Taperoá em remota ocasião, acompanhado de Gonzaga Rodrigues e do fotógrafo Antônio David para encontrar Dorgival Terceiro Neto, a região era paisagem devastada, com aspecto desolador.
No aceiro da Serra do Pico, espalhando-se pelo entorno, a vegetação era somente graveto, sem nenhum vivente. No leito seco do Rio Taperoá, que banha a cidade, um magote de cabras passeava.
No aceiro da Serra do Pico, espalhando-se pelo entorno, a vegetação era somente graveto, sem nenhum vivente. No leito seco do Rio Taperoá, que banha a cidade, um magote de cabras passeava.
Banhada pelo rio, a cidade é ornada por uma nesga da Serra do Teixeira, que torna a paisagem ainda mais atraente. A terra sempre está coberta de resplendorosos raios refletidos nas pedras no alto da Serra do Pico, que emocionam e inspiram poetas e cantadores.
Como é versátil este lugar. Quando toda a região se mostra com aspecto desolador, mesmo assim a visão que se tem é de uma paisagem sedutora.
Depois de algum tempo, quando retornei ao lugar, tudo estava diferente. A chuva do começo do ano tinha transformado a paisagem esturricada em área coberto de marmeleiro, juremas, facheiros e caibeirras que dava gosto olhar, pois toda a extensão estava com flores, perfumada. Como era verde Taperoá.
Do Hotel Pedra do Reino, na entrada da cidade, observávamos a vegetação revigorada, com aroma de terra molhada, sendo possível escutar o rumorejar das folhas da baraúna, da aroeira, da oiticica, do juazeiro, enfim, árvores com acenos que lembravam as palmeiras de Serraria, no adeus quando deixamos o lugar.
Paramos para observar, à distância, a Serra do Pico que margeia o Rio Taperoá, símbolo e inspiração para cantadores e poetas, e por onde passearam personagens de Ariano Suassuna. Enquanto meus amigos proseavam sobre a riqueza do solo do lugar, admirados com a extensão de terra inabitada, deixei a imaginação perambular pela paisagem, reencontrei personagens do “Auto da Compadecida” vagando pelo terreno arenoso da beira dos riachos, a começar por João Grilo, Chicó e palestrei com o universal Quaderna na calçada da Fazenda Santa Maria. Tipos de habitantes com os quais Ariano e Balduíno conviveram.
Ariano e Balduíno Lélis foram seduzidos por esta banda do Sertão, e por meio da arte revelaram paixão pela região.
Depois da Fazenda Carnaúba, do engenhoso Manelito Vilar, em debanda da Fazenda Santa Maria onde nasceu seu primo Dorgival, andando pela paisagem é como se estivéssemos ouvindo o velho Melquides Vilar a conversar amenidades com Antônio Silvino, quando este cismava deixar em sossego as terras do Brejo e do Agreste para viver na aragem de Taperoá.
Taperoá foi o adorno de Ariano, Dorgival e Balduíno, fazendo-os homens honrados, de palavras amáveis e necessários como a água que desce dos montes para irrigar aquela terra.
Nos primeiros anos do século passado, sorrateiro, às vezes o cangaceiro Antônio Silvino passava temporada na camaradagem da Santa Maria, saciava o apetite com coalhada fresca, queijo de manteiga morno, carne de sol e pão de milho com leite de vaca. Havia respeito mútuo entre ambos e, mais de um século depois, Dorgival recordava tudo o que seu pai contava a respeito do cangaceiro.
Para falar de seus antepassados, Dorgival deixava-se conduzir pelas imagens que sempre guardou, sem nunca esquecer de quando andava léguas em lombo de cavalo até Patos para estudar, recordava as viagens de trem até a Capital, onde residiu na Casa dos Estudantes. O tempo passou, ganhou asas, foi advogado, prefeito e governador, sem nunca esquecer Taperoá de sua infância. Da paisagem da terra luminosa, a exemplo de Ariano e Balduíno, ele recolheu imagens que transpôs para seus livros como uma brisa a refrescar a alma.
Naquela viagem para o reencontro com velhos conhecidos, galopamos pelas estradas que o vento morno espanou, e quem sabe, retornaremos a Taperoá para apagar a saudade dos três amigos que deixaram muitas lições.